Assistente social explica por que abordar assuntos acerca da sexualidade com os mais novos é o melhor caminho para que situações de assédio sejam denunciadas
Por Giovanna De Luca
De acordo com boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde em 2018, o Brasil teve um aumento de 83% nas notificações gerais de violências sexuais contra crianças e adolescentes entre 2011 e 2017. A maioria das ocorrências das injúrias acontecem dentro de casa, o que indica que os agressores são pessoas do convívio ou geralmente familiares das vítimas. Além disso, os dados também mostram que a maioria dos abusos é praticado mais de uma vez, como foi caso da menina de 10 anos que engravidou após a série de estupros cometidos pelo tio.
No entanto, embora a pedofilia seja, de fato, um assunto importante em termos de políticas públicas, será que a solução é continuar subindo uma “cortina de fumaça” acerca da sexualidade e seguir tratando-a como um tabu? A resposta de especialistas é clara: não.
Em entrevista ao Femme News, a assistente social Marcia Garuzi, de 58 anos, reflete acerca da importância da educação sexual como prevenção de abusos. Focando no cerne da problemática, ela acredita que a maior dificuldade das pessoas está em entender que sexualidade é algo inevitável, que está presente no decorrer da vida e possui relação com sentimento e emoções. “Um abraço, o aleitamento, um beijo, um carinho, tudo é sexualidade e se manifesta em cada fase da vida de uma forma diferente”, reflete.
Aliado a isso, defende também que é papel dos adultos se aproximar e fortalecer a autoestima e o autocuidado das crianças. Sendo assim, é papel da família, da escola, do Estado e das Políticas Públicas trabalhar a educação sexual. “Fundamental que conversemos com os filhos, estabelecendo o vínculo de confiança e orientação. Os pais têm o ingrediente principal, que é o amor. A criança onde a família socializa informações, cresce com maturidade e responsabilidade para vivenciar sua vida sexual de forma plena e segura”, consta.
Na prática, é sabido que muitos responsáveis se sentem constrangidos ao falar sobre o tema com os pequenos e a assistente social assegura que é natural a dificuldade para lidar com a situação. Neste caso, ela sugere que os mais velhos procurem um profissional de saúde qualificado que possa dar o suporte necessário — seja esclarecendo dúvidas ou naturalizado o processo que faz parte do desenvolvimento humano.
Para ela, esse recuo, apesar de espontâneo, acirra a dificuldade da comunicação entre pais e filhos. O que colabora com essa falta de diálogo é o desconhecimento, que é fruto da censura do tema, e pelo medo de estimular a prática sexual entre jovens. “A educação sexual não é ensinar a fazer sexo. É educar para a cidadania, conhecendo, respeitando e exercitando a responsabilidade sobre os corpos”, afirma.
Já na vida acadêmica, Marcia relembra que os estudantes do sétimo ano normalmente abordam em ciências da natureza temas como: gravidez e contaminação pelas Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Entretanto, isso não é suficiente visto que a educação sexual efetiva se concebe através de um processo contínuo. Ela acredita que o tema deveria ser trabalhado desde os primeiros anos escolares, com respostas curtas e lúdicas, para que a criança entenda e fixe. “É uma constante que deve ter início nas primeiras perguntas das crianças e em cada ciclo de vida, tanto as perguntas quanto as respostas se tornarão mais complexas”, esclarece.
De acordo com a assistente social, a educação sexual eficaz colabora para que as crianças consigam identificar situações de assédio e procurem ajuda. Por já terem sido orientadas, elas entendem que aquilo não deveria estar acontecendo. Além disso, por já debaterem esse assunto em suas redes de apoio elas se sentem seguras para falar sobre. Ademais, através dessas iniciativas que instigam a disseminação de informações corretas, no futuro os cidadãos serão mais conscientes e responsáveis e viverão a sexualidade de forma madura e prazerosa.
Realmente não podemos mais nos limitar com certos assuntos que são para a proteção de todos!
Devemos sempre cuidar do outro e estarmos sempre atentas!
Pauta incrível, parabéns!
matéria extremamente necessária em todos os âmbitos. parabéns pela pauta!
Não temos mais tempo pra tabu enquanto essas atrocidades continuam ferindo nossas meninas e mulheres! Chega. Parabéns pelo trabalho!