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  • Renata Nalim

Amazônia: Desmatamento e queimada ameaçam 85% das espécies na região

Com aplicação “relaxada” da política de defesa nacional em 2019, a biodiversidade da Amazônia foi severamente impactada; aponta estudo

Foto: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)

No último levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o desmatamento na Amazônia Legal correspondeu a 10.476 km2 durante o período de 2020 a julho de 2021. As áreas desmatadas condiz com um aumento de 57% em relação ao mesmo período de 2019. Os focos de queimadas ativos no bioma, durante o período de agosto de 2021 contabilizou 28.060 e 1.709 focos de calor no início de setembro, aponta o Instituto nacional de pesquisa espacial (Inpe). O fogo provocado pela ação humana pode ter atingido 95% das espécies na região, indica a revista científica Nature.


De acordo com o estudo da Nature, “o desmatamento levou à perda de grandes quantidades de habitat, e os incêndios exacerbam ainda mais este já substancial impacto sobre a biodiversidade amazônica”. A revista ainda aponta que os incêndios afetaram o habitat de 85% das espécies de animais e plantas ameaçados na Amazônia e as não ameaçadas tiveram 64% de seu habitat impactado pelas queimadas. Entre 2011 e 2019, cerca de 190 mil km2 da floresta foram queimada; o período de 2019 foi um dos anos mais extremos para os impactos na biodiversidade desde 2009.

Incêndios afetaram habitat de 85% das espécies ameaçadas e 64% das espécies não ameaçadas na Amazônia

Desde os anos 60, o bioma perdeu cerca de 20% de sua cobertura florestal por conta do desmatamento e dos incêndios, bem como das condições de seca que a região enfrenta. O estudo prevê que a perda florestal atinja 21% a 40% até 2050, podendo gerar grandes impactos na biodiversidade da Amazônia.


O professor do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da UArizona, Brian Enquist, aponta que a biodiversidade da Amazônia foi severamente afetada pela política adotada pelo governo brasileiro.


“A política tem tido uma influência direta e enorme no ritmo em que a biodiversidade em toda a Amazônia tem sido afetada", disse Brian Enquist. E acrescenta que “as descobertas são especialmente críticas à luz do fato de que em nenhum momento a Amazônia obteve uma pausa desses impactos crescentes, o que teria permitido alguma recuperação”.


A partir de 2009, o projeto de reduzir o desmatamento na região começou a ser aplicado por uma série de regulamentações, a extensão dos incêndios geralmente diminuiu, exceto em anos de seca. Após 2012, devido a alta impunidade a crimes ambientais e de retrocessos com políticas socioambientais, o desmatamento voltou a aumentar. O relatório do Greenpeace aponta que “o desmatamento continua elevado por falta de compromisso político e ineficácia governamental para exercer o devido controle”. Em 2019, os incêndios voltaram a se repetir, coincidindo com o relaxamento das regulamentações.


"Mesmo com políticas em vigor, que você pode pensar como um freio que reduz o ritmo do desmatamento, é como um carro que continua avançando, apenas a uma velocidade mais lenta", disse Enquist que completa "mas, em 2019, é como se o pé fosse solto do freio, fazendo com que ele acelerasse novamente".


A gestora ambiental do Greenpeace, Cristiane Mazzetti, para o G1 disse que “desde 2019, a quantidade de focos de calor registrada em agosto tem atingido patamares absurdos” e atribui o aumento ao “padrão Bolsonaro de destruição”, onde os focos de queimada, bem como de desmatamento, são superiores se comparado aos períodos anteriores à gestão do executivo atual.


Os focos de queimadas acumulados desde o início do ano até setembro contabilizam 41.520 registros. No ano passado, o mesmo período foi marcado por 76.030 focos ativos, e no final do ano totalizou 103.161 detectados. No período de 2021, o mês de agosto marcou acréscimo de 1.604% por foco de calor acumulado em comparação a julho.


O estudo da Nature, aponta que somente por meio de políticas efetivas de preservação florestal podem retardar esta tendência de destruição e “podem ser cruciais para evitar que a região chegue a um ponto de viragem”.


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