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Marina Marques e Yngrid Alves

Vacinação à moda brasileira: troca de vacinas e armazenamento inadequado marcam a imunização no país

Atualizado: 26 de abr. de 2021

"Quem tomou uma dose de um fabricante e outra dose de outro não tomou nenhuma dose completa da vacina”, afirma imunologista


Créditos: Gilson Abreu/AEN

Segundo o Datasus, sistema de informações do Ministério da Saúde, pelo menos 16,5 mil pessoas tomaram vacinas diferentes nas duas doses contra Covid-19. No Brasil, os imunizantes que fazem parte da vacinação contra o coronavírus são Coronavac e Oxford/AstraZeneca. O estado de São Paulo lidera o registro dessas trocas com 4.471 pessoas não imunizadas de forma correta.

A maioria começou a primeira dose vacinal com a de Oxford/AstraZeneca e finalizou com outra da Coronavac, foram 14.471 pessoas com essa trajetória. Em controvérsia, 1.735 iniciaram com Coronavac e terminaram com Oxford/AstraZeneca. As vacinas, se não tomadas as duas doses completas, são comprovadas cientificamente ineficazes. Além disso, não há nenhum estudo que comprove a eficácia ou segurança de tomar a primeira dose de um fabricante, e a segunda, de outro.

A Coronavac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, utiliza o vírus em modo inativo para assim estimular a produção de anticorpos. Já a de Oxford/AstraZeneca é baseada em vetores virais. Nesse tipo de vacina, um vírus como sarampo ou adenovírus é geneticamente modificado para carregar as informações necessárias para produzir proteínas do coronavírus. Até o intervalo entre as duas doses de cada vacina é diferente: a primeira, é de até 28 dias, e a segunda, de 8 a 12 semanas.

Além dos casos de profissionais que não injetam o líquido da vacina, a falta de atenção na hora de escolher as doses se junta também a erros de imunização. “Quem tomou uma dose de um fabricante e outra dose de outro não tomou nenhuma dose completa da vacina”, afirma a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro dos comitês científico e clínico da Sociedade Brasileira de Imunologia, em entrevista à Folha.

Em Diadema, no ABC Paulista, cinco crianças entre 7 meses e quatro anos de idade foram vacinadas contra Covid-19 ao invés da gripe. Já em Itirapina, no interior de São Paulo, 46 pessoas se imunizaram com a Coronavac, no lugar da dose também contra gripe em um posto de vacinação. Entre os vacinados estão 18 adultos - sendo uma gestante - e 28 crianças.

Em entrevista à Folha, a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin, afirma que esses erros poderiam ser evitados e minimizados com uma maior e melhor supervisão, treinamento e registros da campanha pelo PNI (Programa Nacional de Imunização).

Confira a diferença entre os fracos dos imunizantes trocados:



Armazenamento


O país, que já foi referência mundial em vacinação, além da aplicação errada das vacinas, uma das falhas também cometidas é a armazenagem das doses. Algumas cidades não têm mantido-as na temperatura ideal, o que acaba inutilizando a aplicação. A recomendação feita pelo Instituto Butantan é de manter os imunizantes em temperaturas de 2ºC a 8ºC.


Um dos casos, que ainda segue em investigação pela prefeitura, aconteceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em que 35 doses podem ter sido inutilizadas pelo armazenamento incorreto. Segundo relatos ouvidos pela plataforma de notícias GZH, as doses, que iriam ser utilizadas em profissionais de saúde, haviam chegado congeladas até a UBS (Unidade Básica de Saúde).


Mas não é apenas Pelotas que passa por esse problema, uma pesquisa realizada pelo movimento Unidos pela Vacina e pela Locomotiva Instituto de Pesquisa mostrou que 40% das cidades brasileiras não possuem condições adequadas para o armazenamento das doses de vacinas contra a Covid-19.


O DJ Alok, por meio das redes sociais de seu instituto, decidiu apadrinhar 4 municípios com equipamentos de refrigeração para manter as vacinas em temperatura e armazenagem ideal. Nas doações estão inclusos termômetros digitais via cabo, termômetros digitais com mira à laser, câmaras refrigeradas, bobinas reutilizáveis de gelo e caixas térmicas.


Essa doação faz parte da campanha beneficente criada pela empresária Luiza Helena Trajano, “Unidos pela vacina”, que tem o objetivo auxiliar no processo de vacinação no Brasil.

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