Só a bebida produzida no país será rotulada como champagne. Entenda a decisão no âmbito das relações internacionais
Somente o espumante produzido na Rússia vai receber o selo de Champagne. Essa foi a decisão de Vladimir Putin. Segundo ele, apenas o espumante russo popularmente conhecido como champanskoe, receberá a nomenclatura: champagne. Toda produção estrangeira será rotulada como Vinho Espumante.
Mas, os franceses não digeriram bem. Caso você, assim como essa redatora, não entenda nada de bebidas, é simples: a França tem tradição na produção de champagne.
“O Comitê Champanha deplora que esta legislação não garanta aos consumidores russos informação clara e transparente sobre as origens e características do vinho”, disseram seus co presidentes Maxime Tolbert e Jean-Marie Barillere em um comunicado, reiterando que “champanhe” é um nome protegido em mais de 120 países.
Embora, a olho nu, tudo isso parece irrisório, a alegoria do champagne pode ser um indício dos próximos passos da Rússia no cenário internacional.
Um brinde ao passado, antes de olhar para o futuro
Vamos viajar em 107 anos e voltar para a revolução russa quando o país ainda fazia parte da União Soviética. O que começou como um protesto do dia das mulheres terminou com a queda da autocracia russa. O movimento impulsionou diversas transformações no país.
De acordo com Bruno Veillard – Bacharel em Relações Internacionais e mestre em Sociologia Política pela UCAM-IUPERJ, a concordância com os ideais marxistas e leninistas a Rússia tornou-se um Estado mais forte e poderoso, do que já foi no período de expansão do povo Eslavos do Leste, da atual Ucrânia para além do Rio Volga, durante o regime czarista.
“A partir da perspectiva da ex-União Soviética é possível mencionar que Moscou, capital da Rússia e da ex-URSS, cresceu e desenvolveu-se tecnologicamente a ponto de competir com os Estados Unidos (EUA), em posição de igualdade, conforme observa-se no período da Guerra Fria.”
Segundo o especialista, ao longo das décadas do século XX os russos foram os principais estrategistas da política externa da União Soviética, pois o objetivo do momento centrava-se em demonstrar a supremacia do ex-Estado no cenário internacional. “Tal façanha representa a configuração de um jogo de poder que trouxe benefícios aos povos da ex-URSS, consoante o desenvolvimento da indústria aeroespacial, bélica, e energética que alçaram os índices de qualidade de vida e de valorização do nacionalismo.”
Já na década de 1990, a Federação Russa enfrentou muitos problemas de natureza econômica, sobretudo, pela alta taxa inflacionária. Em nível de política externa a herança soviética foi o lugar de assento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), e de maior projeção internacional por causa de seu histórico político e poderio bélico.
A partir dos anos 2000 a situação no Estado russo apresenta estabilidade e ascende como mandatário da Federação Russa. “Vladimir Putin (2000-2008; 2012-2018; 2018 até os dias atuais), soube capitanear para si os êxitos políticos com a diminuição da pobreza e desemprego, e boa gestão macroeconômica que possibilitaram aos russos o resgate da autoestima social”, declara o mestre em Sociologia Política Bruno Veillard.
Características da política externa
Segundo Veillard no que tange a política internacional os russos tiveram boas respostas, conforme verifica-se na restauração do controle de Moscou da República da Chechênia (1994-2003) e também nos os altos índices de exportação de petróleo e gás a partir de 1999; sua participação no Bloco dos BRICS, em 2009. E recentemente com a anexação ilegal, consoante ao Direito Internacional, da península da Crimeia em 2014.
Os elementos da política interna e externa da Federação Russa contribuem para a aprovação populacional, a qual os compreende semelhante aos tempos de glória e de grande importância que a Rússia desfrutou com as iniciativas da ex-URSS, “Dentro dessa linha de pensamento não é difícil entender o retorno do nacionalismo russo com Vladimir Putin, consoante ao Jornal CEIRI News, cujo partido Rússia Unida já sinalizou diversas ações congruentes com essa diretriz, e muitas são bastante questionáveis e salientam flertes com o autoritarismo”, explica Bruno Veillard.
De volta ao champagne
Nos últimos anos a Política Externa Russa tornou-se bastante agressiva com os governos de Vladimir Putin no Estado eslavo uma valorização dos aspectos nacionais. Essa perspectiva abrange não apenas a política, o sentido diplomático e tradicional, mas também a política feita no tangente à economia e cultura locais. “No que concerne ao caso da marca Champagne, a questão volta-se justamente para a proteção do mercado russo, no qual cresce uma indústria de espumantes, cujas origens remontam aos métodos produtivos da antiga União Soviética”, afirma Veillard.
Para o especialista, apesar de instigar as falas o caso do champagne não abalará a diplomacia franco-russa, pois os produtores franceses não lograram de proibição para a exibição da marca Champagne, e certamente não farão disso novas polêmicas que possam inviabilizar de fato a venda de suas mercadorias.
Por ora o que nos resta é ficar em paz e observar os próximos capítulos dessa história. Para acompanhar a continuação talvez a combinação de pão e Champagne seja um boa.
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