Sem origem conhecida, lista com 50 mil números de telefone de supostos alvos vaza para a imprensa
Jornalistas, ativistas e advogados de todo o mundo tiveram seus dados roubados e viraram alvos de espionagem através do Pegasus – um software para telefones vendido pela NSO, uma empresa israelense de vigilância.
Considerado um dos programas de espionagem mais avançados e completos atualmente disponíveis, o Pegasus é vendido à diferentes agências governamentais e pode infiltrar sistemas operacionais Android e IOS, permitindo acesso secreto a câmeras e microfones de aparelhos, além de mídias, mensagens, informações de GPS, aplicativos, e-mails e chamadas.
O caso foi descoberto em investigações feitas pela ONG Forbidden Stories, de Paris, e Anistia Internacional, e divulgado neste domingo (18) por jornais como Washington Post, The Guardian e Le Monde.
A NSO afirma que seu software é de uso exclusivo das forças armadas e agências de inteligência de diferentes países para investigar criminosos e terroristas, e nega qualquer irregularidade. Além disso, a empresa alega que a investigação está "repleta de suposições erradas e teorias não confirmadas".
Uma reportagem do portal de notícias UOL, publicada em maio, afirmou que o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, do Republicanos, teria participado de negociações para que a NSO participasse de uma licitação do Ministério da Justiça para a compra do software. Segundo o UOL, o envolvimento do filho do Presidente da República gerou insatisfação em militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Agência Nacional de Inteligência (Abin), já que tal tema não compete ao vereador. Carlos Bolsonaro negou a articulação de qualquer negociação.
Os Alvos
Apesar de nenhum número constado na lista estar relacionado a nomes específicos, as organizações envolvidas na investigação conseguiram identificar mais de mil pessoas em mais de 50 países.
De acordo com os relatórios, os países onde a maioria dos números estão concentrados são: Azerbaijão, Bahrein, Hungria, Índia, Cazaquistão, México, Marrocos, Ruanda, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Os respectivos governos negam o uso do software e o abuso de seus poderes legais de vigilância.
Entre os alvos estão cerca de 180 jornalistas de organizações como New York Times, CNN, Al Jazeera e várias outras plataformas.
A quantidade de dispositivos na lista que foram realmente hackeados não foi divulgada, mas, de acordo com o Washington Post, a análise forense de 37 telefones mostrou que houve “tentativas” e “sucessos”. Entre eles, duas mulheres próximas ao jornalista saudita assassinado, Jamal Khashoggi. O celular de Cecílio Pineda Birto, jornalista mexicano também assassinado, nunca foi encontrado. Não se sabe se o aparelho havia ou não sido realmente hackeado.
Segundo o Washington Post, cerca de 15 mil das pessoas cujos números estão na lista são mexicanas, e isso inclui políticos, opositores, dirigentes sindicais e jornalistas.
O The Wire, site indiano de notícias investigativas, diz que 300 números de telefones celulares usados na Índia — incluindo os de ministros, políticos da oposição, jornalistas, cientistas e ativistas de direitos humanos — estavam na lista.
Mais detalhes sobre os possíveis e supostos alvos devem ser divulgados nos próximos dias.
Muito boa a reportagem! Parabéns!