Documentário acompanha a história de três grávidas em Fernando de Noronha, onde não conseguem dar à luz
Imagine nascer em Fernando de Noronha, engravidar e não poder viver a experiência do parto no próprio local. Pois essa é a realidade das mulheres noronhenses, que vivem só até o sétimo mês da gestação na ilha. Desde 2004, ano em que a única maternidade da região foi desativada, as mulheres são encaminhadas para um hospital em Recife.
O documentário Proibido Nascer no Paraíso, da jornalista e cineasta Joana Nin, acompanha os últimos meses da gravidez de três mulheres nativas que são orientadas pela direção do hospital e autoridades locais a se deslocarem até Recife (545 km de distância) para realizar o parto dos seus filhos. Ana Carolina – conhecida por Babalu – é uma dessas mulheres, a princípio inconformada, e busca até a última alternativa uma saída para ter sua filha nascida no paraíso que é interditado para nascer, mas aberto para visitas.
Cercada por ligações e notificações formais com o pedido para sair da ilha, as grávidas recebem a justificativa de que o Hospital de São Lucas – único no arquipélago – não oferece condições apropriadas para realizar o parto, já que não possui UTI neonatal e anestesista. Em uma reportagem para o site Universa Uol, publicada em fevereiro deste ano, a Secretaria de Saúde de Pernambuco informou que a medida foi decretada porque existe dificuldade de manter uma equipe médica completa no hospital.
A viagem para Recife, mais hospedagem, alimentação e consultas são custeadas pelo governo local, mas a saudade do ambiente familiar, o conforto dos amigos, parentes e o direito de escolher dar à luz ao próprio filho no lugar onde foram criadas, são impagáveis.
Ao longo do documentário, disponível no Globoplay, é notado um universo paralelo vivido pelos turistas, onde a estrutura da ilha atende muito bem aos prazeres e cliques fotográficos. Os visitantes pagam uma taxa de 79 reais (cada) por dia para curtir a ilha que é um dos destinos mais procurados para desfrutar os momentos de lazer.
O que fica nítido para o espectador sobre a realidade das gestantes de Noronha, que vivem um dos momentos mais sensíveis de suas trajetórias, é que elas sofrem uma pressão psicológica por não querer colocar o bebê e a própria vida em risco. E esse conflito emocional ficará marcado para sempre na memória dessas mulheres.
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