"No Brasil, o trabalho gastronômico ainda não é valorizado"

Israel Alberto revela os desafios da profissão e em quais chefs ele se inspira

Foto: Divulgação Masterchef/ Arquivo pessoal

Israel Alberto é um jovem carioca, de 24 anos, que descobriu seu amor incondicional pela gastronomia através das diversidades da vida. Com infância de adaptações, Israel viu a oportunidade de crescimento e desenvolvimento para conquistar seus objetivos.

Hoje como gestor gastronômico em Cuiabá, Mato Grosso, conta sua trajetória e passagem por alguns restaurantes, dentre eles, o Restaurante Mahalo, hoje o sétimo melhor Restaurante de Cuiabá e referência no Centro-oeste.

FN - Qual profissão te inspirava?

"Eu tinha em mente que precisava empreender, trabalhar na área administrativa, gerenciar uma empresa, abrir meu próprio negócio, eu sempre gostei de olhar para as coisas e criar. E foi isso que me levou a gastronomia inclusive."

FN - Quando e por que você decidiu ser cozinheiro?

"Quando passei por uma situação delicada na minha vida eu tive que começar do zero, e foi aí que fui pedir ajuda a Deus. Eu fiquei sem chão, sem inspiração como se não tivesse possibilidade para o futuro. Na casa dos meus pais eu comecei a buscar cursos que eu poderia fazer. Fiquei em dúvida entre dois cursos: Design de Interiores e Gastronomia."

Ao decidir pela Gastronomia, ele estudava sobre o assunto em casa de segunda a segunda, enquanto assistia ao programa Masterchef. O reality show culinário aflorou o desejo de trabalhar na área.

"Eu tinha comigo duas coisas: primeiro que não podia entrar em uma área sem saber nada dela e segundo se alguém pode me ensinar algo diferente tenho que procurar aprender com a melhor pessoa do estado."

E então ele distribuiu mensagens para vários restaurantes, se oferecendo para lavar louças, mas não houve retorno. Foi quando entrou em contato com o Restaurante Mahalo (atualmente o sétimo melhor restaurante de Cuiabá e referência na região Centro-oeste). Israel recebeu a oportunidade de ficar apenas três dias, que se estenderam para 24 dias.

"Quando eu fui pegar meu pagamento no Buffet Leila Malouf, fui apresentado para um dos chefes e a própria Leila falou para eles que qualquer evento que tivesse me chamasse para eu pegar experiência". Mesmo sem ter entrado na faculdade, foi assim que ele começou, como Assistente de Cozinheiro.

Depois de trabalhar em um evento sob constante supervisão, a oportunidade surgiu em uma ligação logo de manhã, foi chamado para conversar com D. Leila. "Chegando lá não era uma entrevista de emprego e sim dicas de como eu poderia crescer lá dentro. Na Sexta já estava trabalhando de carteira assinada. Pensei comigo: “Agora eu vou ter de começar a faculdade” (risos).

FN - Quais chefes te inspiram?

"Tem muitas pessoas que falam grandes nomes como Alex Atala, Manu Bufara, mas eu vejo que os chefs que mais me inspiraram foram aqueles que ensinaram na cozinha como Michel, que tem um trabalho exemplar e o Kauã. Acompanhei o Fogaça [foto] e sua brasilidade na gastronomia e isso me chama bastante atenção porque hoje trabalho muito com identidade."

Desafios da profissão e experiências

"É lindo o conceito de servir as pessoas e também um sacrifício. Tinha vezes que eu não desejava entrar na cozinha, mas eu sabia a necessidade de fazer o meu trabalho, já pensei em desistir por passar situações que não imaginava dentro da cozinha, aqui no Brasil o trabalho gastronômico ainda não é valorizado."

Entre os desafios, estão as longas jornadas de 65h e sem pausa no meio da correria. Sem contar os problemas pessoais que podem interferir na vida profissional e vice-versa. Israel relata que já sofreu até perseguição religiosa no ambiente de trabalho.

Outra situação que ele relata foi após servir em um evento para 450 pessoas, assim que terminou o serviço e foi limpar a chapa. O cansaço o impediu de perceber que estava prestes a jogar álcool na superfície quente.

"Naquele momento explodiu no meu rosto e queimou meus cílios, minha sobrancelha, queimou minha mão direita e meu braço também. Quando fui olhar era o álcool que acendíamos o fogo a lenha do outro espaço infantil, o álcool 90, de maior combustão. Foi milagre de Deus não ter ficado com sequelas."

FN - Há muitos jovens que estão ingressando no mercado de trabalho atrás dos seus sonhos. Diante da sua história, qual conselho você deixa para as pessoas que estão procurando atingir os seus objetivos?

"Preparação é tudo para uma boa ação. Não adianta falar que gosta de uma área se não há preparação. Eu me atrasei procurando saber e não me preparar, tem que ter objetivo. Eu me conheço como pessoa? Eu sei onde eu quero chegar? Se a resposta for sim, então você encontrou seu propósito de vida. Tem que fazer o milagre acontecer, mas a preparação é tudo. A prática aperfeiçoa, mas estudo é a base. "

FN - Uma frase?

"O sucesso de vida baseado na vida de outras pessoas é próximo insucesso de vida que eu posso ter."

FN - Quais as suas influências gastronômicas?

"Influências que trazem Brasilidade."

FN - Um ingrediente que não pode faltar? E qual você deixa?

"Aquele que vai fazer o cliente se apaixonar pelo prato. Cada elemento tem sua exigência, tem seu tempero. O que o alimento me falar na hora eu uso, por mais esquisito que pareça (risos). Eu não consigo definir um, vou pela intuição do prato. Tem ingredientes que não gosto, como: jiló, maxixe, mas não deixo nada de fora. Procuro extrair ao máximo, se eu que não gosto vejo que o prato está saboroso, para a pessoa que gosta vai está ótimo."

Foto: Arquivo pessoal

FN - Qual prato você mais gosta de cozinhar?

"Pacu desossado e grelhado com manteiga de ervas acompanhado de musseline de banana da terra, farofa crocante de coentro com uma cama de couve."

FN - Uma harmonização culinária que você acha perfeita?

"Vinho de uva verde com peixe."

FN - Um prato para o dia?

"Uma coxa ou sobrecoxa marinada no tempero e depois assada, purê bem cremoso com queijo e feijão preto."

FN - Um prato para noite?

"Uma salada com frutas contendo abacaxi cortado em pequenos pedaços e laranja, no meio das folhas tomate e cereja, um pouco de vinagre balsâmico, pitada de sal e pimenta branca, peixe temperado com limão Pepe, sal e raspas de limão Taiti e macarrão de brócolis."

Se esse papo sobre gastronomia despertou o chef dentro de você, então aproveite as dicas que o Israel compartilhou em Mitos X Verdades sobre os alimentos. Bom apetite!