Na quarentena, procura na adoção de animais aumenta, mas o abandono dos pets também
- Femme News
- 27 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Algumas instituições animais buscaram realizar as feiras de adoção pela internet já que as feiras presenciais tiveram que parar devido a pandemia. No entanto, o número de denúncias de abandono e maus-tratos continua aumentando
Por Natasha Silveira

Durante o período de pandemia do novo coronavírus, instituições ligadas ao bem-estar animal de todo o país relataram um aumento significativo no número de adoções, em especial no Rio de Janeiro. Enquanto as instituições e locais de acolhimento esperavam que a quarentena prejudicasse o processo de adoção, a realidade foi surpreendente, a busca pelos pets na internet foi um dos motivos.
"Até o início da pandemia, estávamos adotando 15 animais por mês, agora chegamos a 30, tudo online", informou o biólogo Lito Fernandez em entrevista ao UOl, ele é presidente do Centro de Adoção Natureza em Forma, localizado no centro de São Paulo. Já a protetora Vanessa Silveira também relatou ao portal UOL, "Na quarentena, as feirinhas [de adoção] pararam, mas o abandono não. Ficamos muito preocupados, porque a saída pela internet sempre tinha sido pequena".
As ONGs e os protetores observaram que o aumento da procura pelos pets tem a ver com o fato das pessoas estarem com mais tempo por precisarem ficar em casa, sem poder sair e muitas vezes sozinhas, muitas buscam a adoção para que tenha companhia.
Em uma pesquisa feita na Espanha, os pesquisadores pediram a 1297 pessoas para responder um questionário online a respeito da relação delas com seus animais durante o período de quarentena. A Espanha foi um dos países mais atingidos pela Covid-19 e a polícia foi chamada para vigiar as ruas e multar os cidadãos que quebrassem as regras. Nos dados coletados da pesquisa, 794 das pessoas disseram que possuíam um ou mais cães e 503 das pessoas possuíam um ou mais gatos.
Cerca de 75% das pessoas informaram que seus animais de estimação os auxiliaram a lidar melhor com o período de confinamento. Por essa razão, a pesquisa concluiu que "durante o recente surto de Covid-19, a relação que as pessoas têm com seus cães e gatos as está ajudando a compensar a dramática redução em suas interações sociais e físicas com pessoas".
Mesmo com o vírus circulando, os passeios na rua continuaram sendo permitido para os pets. Mas os cuidados também aumentaram, algumas redes de pet shops registraram o dobro das vendas nos produtos de limpeza e de higiene para os animais, alguns tutores não se sentiram confortáveis de mandar o animal ao banho e tosa e optaram por fazê-lo em casa. Produtos como lenço umedecido e álcool em gel específico para cachorros foram os mais selecionados.
Entretanto, infelizmente o número de abandono de animais também teve um aumento ainda maior que o de costume. Segundo dados do IBGE e do Instituto Pet Brasil, o abandono de animais subiu para 40% na quarentena. "A pandemia gerou este aumento do abandono porque, muitas vezes, a pessoa que tem um bichinho de estimação perdeu o emprego. E aí, não tendo alternativa, colocou o bicho na rua. Mas serve de aviso: abandonar e maltratar animal é crime", informou Karla de Lucas, subsecretária de Proteção e Bem Estar Animal do RJ, ao G1.
A Associação Protetora dos Animais, ProAnima, no Distrito Federal, registrou um crescimento de 60% nos últimos 3 meses no número de pessoas que abandonaram os próprios animais de estimação. A organização observa que o distanciamento social, que obrigou muitas pessoas a se isolarem dentro de casa, influenciou para que o abandono ocorresse. "Achamos que é porque todos os familiares estão em casa, em ambiente antes tranquilo e passou a ser difícil de suportar, e culpam os bichos, e o que percebemos é que o animal muda de comportamento quando o ritmo da casa muda", ressaltou Mara Moscoso, diretora da ProAnima, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Os relatos de maus tratos animais também aumentaram na quarentena, principalmente por parte de famílias que apresentam histórico de violência doméstica. Também aumentou o número de denúncias para pessoas que quiseram se desfazer dos animais por medo da contaminação do coronavírus por meio deles, mesmo que não exista comprovação científica no mundo que comprove que os animais contraem o vírus e contaminem os humanos.
O Garra Animal, no Rio de Janeiro, registrou um aumento de 170 para mais de 700 pedidos de socorro para animais abandonados, a instituição já é responsável pelo cuidado de 350 animais. Apenas em um dia, receberam denúncias de 6 cavalos abandonados, "É praticamente impossível atender todos os pedidos de ajuda. No início da pandemia, tivemos um aumento na quantidade de adoções. Mas esse número foi caindo, as pessoas vão ficando mais receosas, a crise vai chegando e aí temos visto um número muito maior de abandonos, e a quantidade de filhotes nascendo é assustadora", relatou a Renata Prieto, fundadora e presidente do Garra, à Folha de S. Paulo.
De acordo com o Instituto Pet Brasil (IPB), a população pet no Brasil é de, aproximadamente, 140 milhões de animais, entre eles cães, gatos, peixes, aves, répteis e pequenos mamíferos. Os cachorros são a maioria, sendo 54,2 milhões e os gatos com 23,9 milhões, cerca de 3,9 milhões desses (sendo 2,7 milhões de cães e 1,2 milhões de gatos) estão em situação vulnerável, vivendo com famílias abaixo da linha de pobreza ou pelas ruas, mas ainda recebendo cuidados.
O abandono e maus tratos a animais são crimes e podem ter pena de detenção de 3 meses a 1 ano. No Rio, o disque denúncia registrou 1.473 chamados por maus-tratos ou abandono de animais, em São Paulo foram registradas 4.524 denúncias nos 4 primeiros meses de 2020.
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