Moradores da Rocinha sofrem com falta de abastecimento de água na comunidade há mais de uma semana
- Femme News
- 26 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Ainda sem solução, a Cedae informou estar mantendo técnicos no local para que seja feita a busca pelo problema, porém moradores relatam que a falta de água é recorrente na comunidade
Por Natasha Silveira

No fim da tarde de quinta-feira (23), moradores da parte baixa da favela da Rocinha realizaram um protesto na Autoestrada Lagoa-Barra, no bairro São Conrado, em razão da falta de água que ocorre na comunidade há, pelo menos, 15 dias em algumas regiões. Segundo a Associação de Moradores da Rocinha ao UOL, o problema afeta principalmente a parte baixa da favela, onde o problema já atingiu mais de 4 mil famílias. O presidente da Associação, Wallace Pereira, informou ao UOL: “A Cedae [Companhia Estadual de Águas e Esgotos] já mandou carros-pipas para a favela, mas eles são insuficientes. A verdade é que eles não fazem manutenção para a Rocinha. Agora, mais do que nunca, não podemos ficar sem água. Água é sobrevivência. Dessa maneira, deixaremos a Covid vencer. As pessoas não conseguem nem lavar as mãos.”
A moradora Fernanda Clemente, 47, também deu seu depoimento a respeito da situação e diz que está a procura de doações de galões de água para sua família, ela reside na região chamada de Largo dos Boiadeiros há 20 anos e vive com seus dois filhos adolescente, seu marido e sua mãe. “Não temos água para beber, cozinhar, tomar banho, lavar a louça. Não temos água nem para dar descargas. Como deixam isso acontecer nessa época do ano?”
O coordenador da Garagem das Letras, Fernando Emiro da Silva, um espaço cultural na comunidade, recordou que o problema de abastecimento na Rocinha é pertinente: “Dizer que falta água na Rocinha é redundante. O incomum é ter água frequentemente. Normalmente, a Rocinha fica três, quatro dias sem água. Em outro dia, entra água e fica mais três dias sem. Por isso, as casas têm caixas d’água para que as famílias consigam guardar, reter água. O normal aqui é desumano, mas com a pandemia cria-se um foco, fica pior.”
A Cedae emitiu uma nota informando que os profissionais estão no local para localizar o problema da falta de abastecimento de água, técnicos foram enviados para esburacar as ruas na tentativa de encontrar o foco do problema. A companhia informou que um possível vazamento poderia estar reduzindo o abastecimento da região e que as construções feitas sobre as redes da empresa fazem com que o trabalho no local se torne mais complexo.
“A companhia vem atuando ininterruptamente na região desde a última sexta-feira (17) a fim de identificar o vazamento encoberto que estaria reduzindo o abastecimento (...) Técnicos permanecem atuando para localizar o vazamento e concluir o reparo. Vale informar que a Cedae está disponibilizando o fornecimento de água por meio de carro-pipa e realizando manobras operacionais para reforçar o abastecimento”, ressaltou a companhia, mas ainda não deram nenhuma previsão do conserto.
Com tantas reclamações acerca da falta de água, a defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) criou o canal “Onde está sem água?” para que fossem feitas as denúncias pelos moradores e a coleta de dados dos locais que estão sem o abastecimento, e assim encaminhar às autoridades responsáveis. Das 397 denúncias recebidas, 6,8% foram da Rocinha, em especial na região de Vila Verde, rua 1, Rua 2, Rua 3, Rua 4, Cachopa e Casa da Paz.
Alguns moradores reportaram ao UOL estar utilizando as churrasqueiras para conseguir ferver a água e assim estar apta para o consumo, já que o preço elevado do botijão de gás se torna inacessível para algumas famílias. Em parceria da UOl com o Data_Labe em maio, a reportagem mostrou que a falta de água potável é um problema crônico nas comunidades do Rio, as populações ficam ainda mais vulneráveis sem o acesso à água e correm o risco de maior exposição ao novo coronavírus. Segundo o painel Rio Covid-19, da Prefeitura do Rio, a comunidade da Rocinha já registrou 47 óbitos pelo vírus e 272 casos foram confirmados até o momento.
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