O ministro da Ciência afirmou que o medicamento possui eficácia contra o vírus e foi voluntário nos testes
Foi afirmado pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, que o vermífugo nitazoxanida, conhecido como Annita, se mostrou eficiente em reduzir a carga viral dos pacientes infectados com o novo coronavírus, podendo reduzir o contágio e diminuir a possibilidade de aumento dos sintomas na pessoa infectada. Durante um evento no Palácio do Planalto na última segunda-feira (19), e junto ao presidente Jair Bolsonaro, o ministro informou que 1.575 pessoas passaram pelo teste clínico, incluindo ele mesmo, e que os resultados foram enviados para publicação em uma revista científica que não foi mencionada.
A médica Patrícia Rocco, também professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências, foi a coordenadora da pesquisa anunciada pelo ministro. Depois dos testes em laboratórios possuírem 94% de chance de eficácia, Marcos Pontes anunciou em abril o início dos testes em humanos e havia dito que os resultados poderiam sair em quatro semanas. No entanto, o próprio ministro admitiu que a sua previsão teria sido um tanto quanto otimista.
A pesquisa foi realizada pelo método duplo-cego, que é quando o paciente e o médico não sabem o medicamento que estará sendo aplicado, separando os pacientes por dois grupos em divisões aleatórias, onde um grupo irá receber o medicamento e o outro um placebo. Os testes duraram de junho a agosto e os voluntários realizaram os testes em sete centros de saúde do país, divididos entre São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Cada paciente só podia ter apresentado até três dias dos sintomas do coronavírus e foram submetidos a cinco dias de medicamento, tomando 500mg de nitazoxanida três vezes ao dia.
"Esse resultado é de extrema importância já que a nitazoxanida é uma medicação que tem baixo custo e ampla distribuição no território nacional, podendo ser utilizada por via oral, não necessitando de internação hospital. Na dose utilizada, não apresenta reações adversas graves. A redução da carga viral implica em menor gravidade e em menor transmissibilidade do vírus", explicou a médica durante o evento. Segundo Rocco, por ter sido submetido a uma revista científica, o estudo não pôde ser divulgado em mais detalhes pelo governo e ela explica que somente os dados gerais que estão sendo compartilhados poderão ajudar a salvar vidas.
"Como cientista, sempre pensamos que o artigo deve ser publicado e revisado por nossos pares. Entretanto, mesmo na pandemia há um tempo entre a submissão e a publicação. Seria correto omitirmos esse dado e aguardar que em um mês 14 mil pessoas morressem?". A médica também informou que também está sendo feito um estudo com pacientes que apresentam os sintomas mais graves da doença e disse que a expectativa é que o resultado seja anunciado nas próximas semanas.
Para Patrícia Rocco, a descoberta da eficácia da nitazoxanida é muito importante para o momento atual já que não foi comprovado que outro medicamento pudesse ter alguma eficácia contra o vírus, citando como exemplo a hidroxicloroquina que foi defendida pelo presidente nos últimos meses. "A própria hidroxicloroquina todos estudos já mostraram, infelizmente ou felizmente, a não eficiência e nem sequer a redução da carga viral, se utilizada na fase precoce, profilaticamente ou na fase tardia."
Antes da fala da médica no evento, o próprio Bolsonaro havia defendido a sua posição em favor da hidroxicloroquina alegando que não haviam outras "alternativas" no combate ao vírus a não ser o medicamento. "Nós não tínhamos alternativa. Você em determinado momento tem que tomar uma decisão, pior do que uma decisão mal tomada é uma indecisão. Na indecisão gente acaba morrendo e nós jogamos em cima disso. Quem criticava a hidroxicloroquina não apresenta alternativa."
O presidente também disse que o número de mortos pelo coronavírus no Brasil, já contabilizados em mais de 153 mil, poderia ter sido impedido. No entanto, não explicou de que maneira isso poderia ter sido feito. "Creio eu, se eu tivesse como ajudar na condução dessa questão, os danos, as mortes seriam muito menos em número".
Antes do anúncio, o evento no Palácio do Planalto exibiu um vídeo com gráficos de barras sem legenda e sem detalhes dos resultados dos testes, apenas com títulos que diziam "a nitazoxanida é eficaz" e "está comprovado cientificamente que o medicamento reduz a carga viral na fase precoce". Porém, a equipe do jornal O Globo identificou que os gráficos apresentados no evento não fazem parte de algum artigo científico e sim que se trata de uma ilustração pertencente ao banco de imagens Shutterstock, que costuma ser utilizado por agências de publicidade. A ilustração em questão custa o valor de US$75,00 sendo usada em alta resolução e pode ser adquirida por qualquer um.
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