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Educação Financeira para jovens: Uma política pública urgente

Atualizado: 5 de fev. de 2021

O analfabetismo financeiro contribui para o endividamento da juventude brasileira.


Danton Lustosa tinha 14 anos quando começou a trabalhar. Morador da grande comunidade de Sussuarana, em Salvador, assim que entrou para o ensino médio ele mudou da escola pública do bairro para uma no centro da cidade, a 1h50mim de casa. “Existe uma crença de que as escolas do centro são melhores e quem estuda lá tem mais chances de ascender através da educação. Só que estudar no centro quando se é da periferia tem custos, transporte, alimentação, além do material, e foi aí que eu comecei a "estagiar". Na verdade era me permitir ser explorado por qualquer meio salário após a aula, em qualquer lojinha do centro, para ter como continuar a estudar e poder consumir”


Filho de uma trabalhadora doméstica que o criou como mãe solo até os 13 anos e enteado de um pedreiro, Danton relata que a escassez foi uma constante em sua vida. “Tudo sempre foi muito regrado aqui e quando eu comecei a ter minha grana como qualquer adolescente eu queria consumir roupa, ir a festas, ter um celular legal. O resultado foi meu nome sujo aos 18 anos.”



Fonte: Banco de Imagens

A realidade de Danton, não é um caso isolado. A cada 10 jovens, 4 estavam ou já estiveram inadimplentes de acordo com uma pesquisa feita pelo Serasa em parceria com a Câmara Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). A pesquisa ouviu 801 jovens, entre homens e mulheres de todo o Brasil, de 20 de fevereiro a 6 de março de 2019 e mostrou que o principal motivo do endividamento é a necessidade de contribuir com as despesas da casa, e claro, o descontrole com as finanças pessoais. De acordo com a última pesquisa divulgada pelo Serasa Experian, em maio de 2019 havia 8,6 milhões de jovens inadimplentes. A maior parte, por uso excessivo do cartão de crédito e do cheque especial. Os dados mais recentes que temos sobre o endividamento da população brasileira são de setembro de 2020, já em meio a pandemia de Covid-19. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 67,2% das famílias estavam com o nome sujo, com destaque para a faixa etária de 26 a 40 anos.


Educação Financeira

Os resultados de pesquisas sobre renda e endividamento da população brasileira sempre apontam como a desigualdade social de uma sociedade de classes atinge com maior intensidade grupos de maior vulnerabilidade como negros e mulheres, principalmente em idade jovem. Diante da possibilidade de ter acesso a bens básicos de consumo que não puderam ter durante a infância, e ao mesmo tempo ter que arcar com despesas que assegurem a sua sobrevivência e a de outros familiares, é comum que jovens se vejam endividados já em seu primeiro emprego.


Em meio a pandemia de Covid-19, com 23 anos de idade e trabalhando a 2 anos como operador de telemarketing, Danton percebeu que era urgente a necessidade de se organizar melhor com o seu dinheiro. “A pandemia despertou em mim um senso maior de responsabilidade com minha grana porque meu padrasto ficou sem serviço e minha mãe, desde que minha irmã mais nova nasceu, é somente dona de casa. Então eu sou, no momento, a única pessoa em casa com uma grana certa.” Foi nesse momento que Danton começou a pesquisar na internet e encontrou uma série de produtores de conteúdo, e entre ele a Nath Finanças, como é chamada na internet a administradora e orientadora financeira Nathália Rodrigues que virou fenômeno na internet ao trazer dicas simples, com humor e conteúdo acessível para ajudar as pessoas a saírem do vermelho e se organizarem financeiramente. “Eu esbarrei em muito conteúdo longe da minha realidade que me fazia sentir culpa de estar endividado, culpa por não ter guardado grana, culpa por consumir. Até que eu esbarrei na Nath Finanças. Primeiro já foi um choque me deparar com uma jovem mulher preta falando de economia e dinheiro. Também por isso, foi mais fácil me relacionar com o conteúdo. Também tem uma série chamada Guetonomia no YouTube que foi sensacional pra mim nesse sentido. A gente que é baixa renda, periférico, não branco. Também ganha, gasta, sonha e quase ninguém direciona esse tipo de conversa pensando na gente como interlocutor.”


Em 2020 a educação financeira passou a ser direito de todos os brasileiros, previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). De acordo com este documento, que prevê o mínimo que deve ser ensinado nas escolas, desde a educação infantil até o ensino médio, a educação financeira deve ser abordada de forma transversal, ou seja, durante as aulas. No entanto, colocar essa tarefa em prática tem uma série de desafios, que vão desde a formação de professores, a oferta de material didático adequado e, mais recentemente, a adoção do ensino remoto. A indústria do enriquecimento rápido

Enquanto não há uma política pública e eficaz de educação financeira, produtores de conteúdo que prometem um enriquecimento rápido e vendem cursos que custam mais de um salário mínimo para ensinar as pessoas a ganharem dinheiro em operações de risco ou fazendo vendas na internet, são oferecidos aos montes. Na contramão da rapidez que alguns prometem, Danton acredita que ainda tem um longo caminho pela frente para conquistar tudo o que quer e ter uma vida financeira confortável, mas agora, se sente minimamente norteado sobre qual caminho deve seguir. “Ninguém me ensinou que eu devia saber lidar com o dinheiro, só foi me dito desde sempre que eu precisava ganhar, para poder gastar e acredito que é assim com a maioria das pessoas que vem da onde eu venho. Ninguém te prepara pro dinheiro e tudo que cerca ele. Educação financeira, economia doméstica deveriam ser matérias obrigatórias nas escolas. E eu não falo de ganhar para gastar de forma banal, mas poder consumir mesmo, as coisas simples, poder ir no shopping e comprar um tênis legal, tomar uma casquinha são coisas que meio que humanizam a gente perante a sociedade, pode soar superficial mas você se sente inadequado quando não pode meramente se apresentar em ambientes que estão além do seu habitat sabe?”


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