“Sempre quis criar uma cena que ultrapassasse os limites da tela”, diz o criador
Por Millena Galdino
Criada por Little Marvin e produzida por Lena Waithe, a série Them chegou na plataforma de streaming Amazon Prime, no mês passado. Repercutindo nas mídias com críticas mistas, a antologia de 10 episódios explora a nova vertente do terror, com discussões sobre identidade, história e racismo, também em um tom sobrenatural.
Pensada para cada temporada trazer uma trama sobre o cotidiano das questões que atravessam a população negra nos Estados Unidos, a primeira temporada se ambienta em 1953, quando uma família dentro do contexto da “Grande Migração”, em que 600 mil negros tiveram de deixar os estados do Sul para fugir das leis de segregação racial, saindo, então, da Carolina do Norte para a cidade de Compton, em um típico subúrbio estadunidense, na Califórnia, dominado por pessoas brancas, o nome da série começa a ser respondido.
Them propõe investigar o passado criminoso em questão racial nos Estados Unidos e em como essas consequências atravessam suas vítimas e seus descendentes, deixando cicatrizes. Na trama, Alfred, o pai, um engenheiro que é submetido a ambientes abusivos no trabalho e na vizinhança, carrega as marcas de quem viu os horrores da Segunda Guerra Mundial. Lucky, a mãe, enfrenta a culpa pela perda de um filho. E as filhas, Ruby, a mais velha, traça uma busca em ser diferente, enquanto a caçula, Grace, pretendia ser amada. A família, além de conviver com a realidade exaustiva e sufocante, é colocada para lidar com seus próprios pesadelos dentro da casa. Associando, também, a relação do racismo com a religião, em que legitimou anos de violência e perpetuando a escravidão, mesclando o terror psicológico com algo sobrenatural.
Tendo aviso de gatilho no início dos episódios, a série leva ao espectador cenas de violências e abusos acometidos aos personagens centrais pela população branca, explorando os detalhes, o que divide as críticas do público.
“Se esse tipo de arte não diz nada de novo ou diferente sobre a trajetória das pessoas negras na América, arrisca se tornar nada mais do que uma ‘pornografia de trauma’. Afinal de contas, nós precisamos mesmo de mais imagens de pessoas negras morrendo brutalmente?”, lança o questionamento da resenha da jornalista Lovia Gyarkye no site The Hollywood Reporter.
Já em uma entrevista ao site Los Angeles Times, o produtor Little Marvin responde sua real intenção ao mostrar cenas tão aterrorizantes de maneira minuciosa
“Sempre quis criar uma cena que ultrapassasse os limites da tela, pegasse o espectador pelo pescoço e o forçasse a lidar com a história de violência contra os Corpos Negros nesse país. Se eu fizesse isso de uma maneira tradicional – como um ato de violência policial ou uma narrativa de escravidão – diriam que ‘já tinham visto isso antes’. Mas essa cena é tão abominável que desafia o espectador a vê-la dessa maneira”.
Assista ao trailer da série aqui.
Comments