Como lidar com a agitação e estresse das crianças em casa na quarentena?
- Femme News
- 29 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
Veja dicas de cuidado com crianças mais agitadas ou hiperativas durante o isolamento social
Por Natália Tristão

Desde março deste ano, quando a pandemia atingiu o Brasil, se fala sobre as mudanças comportamentais causadas pela quebra da rotina das pessoas e os danos que elas causam. Já se esgotaram as dicas sobre postura durante o home office, sobre organização do tempo e espaço para não procrastinar e até mesmo sobre as possibilidades de exercícios físicos em casa. Mas, e as crianças? Como ficam nessa história?
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegura às crianças o direito à liberdade, o que, por lei, inclui brincar, praticar esportes e divertir-se (vide Lei Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990). A equipe do Femme News se preocupou com as necessidades e direitos dos mais jovens, e ouviu especialistas no assunto para entender como o isolamento social os afeta.
Em primeiro lugar, é preciso entender que criança tem energia, e precisa gastar. Quando se está na escola ou creche, os responsáveis do local propõem atividades para que isso aconteça. No entanto, com o tempo ocioso em casa, essa energia se acumula ao estresse de sair da rotina de forma abrupta.

Mas crianças agitadas são sempre hiperativas e precisam de cuidados especiais?
Não, isso não é real. A graduanda de Psicologia Rute Ruis explicou que as crianças normalmente têm mais energia do que os adultos, e, por isso, é importante ter cuidado para não confundir.
“Crianças que são indisciplinadas e/ou pouco esforçadas não necessariamente são hiperativas. As hiperativas apresentam certos sinais desta condição, como dificuldade de manter atenção ou concluir as atividades, procurando sempre pular para outra. E também são mais desorganizadas e parecem não escutar o que os adultos/responsáveis falam”, afirma Rute.
É importante ressaltar que o diagnóstico do transtorno de hiperatividade deve ser feito por profissionais qualificados, que podem indicar tratamento adequado. A psicóloga Renatta Tinoco destaca:
“A hiperatividade só pode ser diagnosticada a partir dos 6 anos. Antes disso, não se pode considerar uma criança hiperativa, porque é comum na infância a criança ser mais agitada e inquieta. Ela está na fase de explorar, de aprender, e algumas fazem isso de forma mais ativa. Por isso, não se pode considerar um transtorno crônico antes da idade indicada.”
Tinoco também ressalta que “durante a quarentena, não se pode dar diagnóstico de hiperatividade, porque é uma situação atípica ao que estamos acostumados a viver”.

Como explicar a pandemia para as crianças?
Às vezes, até para os adultos é difícil entender e acompanhar as informações sobre o coronavírus. Por isso, o tema difícil deve ser tratado de forma leve. A Ana Priscila, mãe da Ana Júlia (3 anos) e do Arthur (11 anos), disse que usa uma estratégia mais lúdica com as crianças, como conversas calmas e vídeos educativos.
A psicóloga Renatta Tinoco indica o trabalho com ludicidade:
“Não precisa trabalhar de forma realista, dizendo números de mortes e casos para uma criança. Pode contar uma história, fazer desenho, essas coisas. Elas não devem ter acesso às informações de dados que vemos na TV, com imagens chorando e coisas desse tipo, porque são extremamente negativas para as crianças.”
Como podemos ajudar no alívio da tensão e acúmulo de energia infantil?
É necessário que sejam praticadas atividades que preencham o dia e façam a sentir melhor. A criança sente falta da rotina e do contato diário e, de acordo com Tinoco, o rompimento com o que se vivia antes pode gerar consequências.
“Achamos que as crianças sofrem menos que os adultos, o que não é verdade. Estão, de fato, sem contato social com seus amigos da escola. A criança sem posse de celular não consegue fazer chamada de vídeo ou mandar mensagem, não consegue manter o contato regular. Então, na cabeça dela, não consegue saber se os amigos estão bem, ou o que andam fazendo. Apesar de não saber expressar genuinamente o que sente, ela manifesta em comportamentos ou falas”, afirma a psicóloga.
A Laíce, mãe do Breno (9 anos), conversou com a nossa equipe sobre a mudança de comportamento do filho e dividiu conosco sua experiência:
“Tentei conversar a respeito da situação, mas ele demorou um pouco pra entender. Em alguns dias, tive que sair com ele de casa e andar na ciclovia do bairro, com máscara, e fazer caminhada para ele extravasar um pouco. Além disso, coloquei uma rede na varanda, e percebi que ele fica muito tempo se balançando, e isso o acalma bastante. Não consegui montar nenhum cronograma, porque as rotinas do Breno e de toda a casa ficaram desreguladas”, afirma ela em conversa com a equipe.
Já Ana Priscila, atentou para um comportamento diferente de Ana Júlia: o celular. A mãe conta que passa um tempo no terraço com a filha para que ela possa andar de bicicleta, patinete ou brincar de bola. Mas, apesar de gastar tempo com atividades tradicionais, a criança está passando mais tempo mexendo no eletrônico do que antes da pandemia.
De acordo com a Renatta Tinoco, uma boa estratégia é montar um cronograma de atividades, formando uma rotina flexível: “Os pais precisam se envolver mais nas atividades com as crianças, procurar ajuda de um profissional, e manter uma rotina, para que as crianças entendam que existe horário para estudar, para brincar, e outras coisas. Também ajuda procurar atividades ao ar livre, como quintal e terraço, principalmente em família.”
E como ajustar a rotina escolar?
Algumas escolas estão trabalhando videoaulas com seus alunos durante o horário das aulas. Para Tinoco, manter os horários semelhantes ao da “rotina normal” é essencial para aliviar a mudança brusca na vida da criança: “Ajustar os horários é importante para que ela acorde sabendo que ela tem coisa para fazer. Os pais precisam ler para compreender e atender à demanda dos filhos.”
Ana Priscila conta que sempre estuda com os filhos. “Explico novamente e vou auxiliando nas dúvidas, ensinando a organizar os conteúdos no caderno.”
Já Laíce, conta que a condição especial de Breno tem dificultado as coisas, e explica o que tem feito para ajudá-lo:
“Ele tem autismo leve, e ele tem muita dificuldade com a alfabetização. O ensino na escola era adaptado e com mediador. Ele está no terceiro ano, e as aulas online não têm adaptação para ele. Eles passam nas aulas materiais do terceiro ano. Com essas dificuldades, eu o coloquei em uma explicadora de duas horas diárias, para que quando as coisas "voltarem ao normal” ele não fique mais atrasado do que está.”

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