Protestos que ocorreram em 11 de julho completam um mês e cidadãos cubanos buscam informações por familiares presos e desaparecidos nas manifestações
“Sessenta anos de dominós fechados", como bem descreve a música Patria y Vida composta pelos artistas cubanos Descemer Bueno, Gente de Zona e Yotuel Romero tornou-se inspiração para a mobilização de milhares de cubanos protestarem no dia 11 de julho. Pela primeira vez em mais de 60 anos, o maior protesto da história de Cuba ocorreu por efeito do desejo de “liberdade” e “abaixo a ditadura” - conforme o clamor de várias vozes cubanas que foram às ruas. As manifestações começaram na cidade de San Antonio de los Bãnos e se dispersaram por todo o país, bem como afora em Miami e Washington D.C.
Aos passos que as manifestações tomaram conta das ruas e vilarejos em Cuba, as repressões policiais se intensificaram e muitos cidadãos cubanos encontram-se ainda desaparecidos. O perfil do twitter da organização Cubalex, informou ontem (10) que cerca de 559 cidadãos cubanos estão ainda detidos, 241 cubanos estão presos e 40 estão desaparecidos. Desde o início das manifestações estima-se que ocorreram ao todo cerca de 1.745 ações repressivas, sendo 33 dos atos com jovens entre 14 a 18 anos.
Veja o vídeo: https://bit.ly/3AzIqZc
Em um grupo público no facebook, com 15,4 mil membros, há inúmeros relatos de familiares buscando informações sobre seus parentes, uma publicação mostra uma foto de uma menina de 17 anos desaparecida desde 11 de julho, bem como publicações que relatam a prisão de parentes por “desordem pública” e “instigação à prática de crime”. Parentes dos presos denunciam a falta de justiça e de provas para condená-los.
“Um vizinho o denunciou, disse que ele havia participado dos protestos do 11J em Cuba. Apesar da falta de provas, além de exigir direitos humanos e protestar pacificamente não configuram crimes, Leonardo está detido no Presídio de Valle Grande, aguardando julgamento por “desordem pública” e “instigação à prática de crime”. Sua família não conseguiu vê-lo ou falar com ele.”, escreveu uma integrante do grupo.
A repreensão pelo governo incrementa em mais um dos casos de ocorrência de detenção arbitrária na ilha - a maioria das apreensões ocorrem em vias públicas para impedir a participação da população em protestos, de acordo com o Cubalex. Havana, capital de Cuba, registrou a maior quantidade de prisões arbitrárias em comparação com outras regiões, cerca de 132 cubanos estão presos, sendo 86 pessoas detidas, 38 com processos em verificação e 8 estão em desaparecimento forçado.
Segundo uma fonte que não quis ser identificada “a lista continua a crescer, pois muitos familiares, por medo ou ameaças das autoridades, não tornaram pública a sua denúncia da prisão e do desaparecimento dos seus entes queridos.” E acrescenta que “ muitos prisioneiros sofreram espancamentos severos, racismo, tortura psicológica, e muito mais, e se for um adversário declarado, os ataques são ainda mais severos. Muitos ainda carregam os ferimentos, razão pela qual demoram para libertá-los, eles esperam que as marcas dos espancamentos desapareçam, pois libertá-los dessa forma seria uma prova contraproducente e irrefutável do que as autoridades lhes infligiram.”
Recentemente muitos jovens cubanos que estão fazendo seus relatos nas plataformas digitais estão sendo presos e perseguidos por serem considerados “opositores declarados”, bem como acontecem com os artistas e jornalistas independentes. “Para eles, qualquer pessoa que assuma uma posição crítica é destacada e vigiada, e presa, se necessário.”, afirmou uma fonte. A youtuber e influenciadora cubana Ruhama Santiago foi presa ontem (10) e levada para à unidade de operações da Segurança do Estado de Versalles, na cidade de Santiago de Cuba. Ruhama fala abertamente sobre política e se declara como liberal e anticomunista nas redes sociais. Hoje, pela manhã, a youtuber foi liberada e logo após escreveu no twitter: “ Obrigada pelo #FreeRuhama! Eu sabia que não estaria sozinha. Mas isso não acaba aqui, ainda há muitos presos #SOSCuba”.
Familiares dos manifestantes cubanos que ainda estão detidos e desaparecidos pedem por “liberdade” para seus parentes e conhecidos nas redes sociais. Até ao momento, somente 139 cubanos presos conseguiram medidas cautelares, dentre estes 41 obtiveram liberdade sob fiança, 73 tiveram prisão provisória e 25 conseguiram prisão domiciliar. Estas medidas estão sendo avaliadas por meio de recursos.
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