Após ameaçar repórter de agressão, Bolsonaro volta a ofender jornalistas chamando-os de “bundão”
Por Beatriz Catão
Nesta segunda-feira (24) o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), afirmou que jornalista “bundão” tem menos chance de sobreviver ao coronavírus, caso seja contaminado, do que ele próprio. Essa declaração ocorreu durante um discurso no Palácio do Planalto num evento chamado “Brasil vencendo a covid-19”, doença que já matou mais de 114 mil pessoas no país.
Esse evento era direcionado para médicos defensores da hidroxicloroquina em casos de pacientes com covid-19. O medicamento não tem comprovação científica da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre sua eficácia contra a doença, mas, na visão do presidente, muitas das 114 mil mortes poderiam ter sido evitadas se o uso do medicamento não tivesse sido politizado.
Durante o evento, Bolsonaro contou uma história e revelou que era aspirante do exército, relembrando que era um atleta das Forças Armadas. Isso porque, no começo da pandemia, o presidente fez um pronunciamento em que dizia que, se pegasse a doença, sentiria apenas uma “gripezinha” por ter “histórico de atleta”.
“Em 78, um soldado numa oficina de cordas caiu numa lagoa que tinha mais ou menos dois metros e meio de profundidade, é pouca coisa. Dois metros e meio é isso aqui. E eu consegui, era um jovem aspirante do exército brasileiro, tinha 23 anos, sempre fui atleta das forças armadas. Aquela história de atleta, né, que o pessoal da imprensa vai para o deboche, mas quando pega num bundão de vocês a chance de sobreviver é bem menor”, disparou Bolsonaro.
O presidente ainda acrescentou: “só sabem fazer maldade [os jornalistas], usar a caneta com maldade em grande parte. Tem exceções como aqui o Alexandre Garcia [jornalista]. A chance de sobreviver é bem menor do que a minha. E quem falou 'gripezinha' foi o Dráuzio Varella, deixar bem claro. E depois eu fui atrás”.
Essa declaração foi um dia após o presidente responder que tinha vontade de “encher de porrada” a boca do jornalista que o questionou sobre supostos depósitos feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Segundo o UOL, a ONG RSF (Repórteres sem Fronteiras) registrou 53 agressões verbais contra jornalistas apenas nos primeiros seis meses do ano. O presidente apresenta esse tipo de comportamento em diversas ocasiões em que está acompanhado de jornalistas, proferindo comentários homofóbicos, xingamentos, gestos obscenos, mandando repórteres mulheres "calarem a boca" e encerrando entrevistas coletivas com arrogância.
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