O anúncio foi feito logo depois do Ministério da Saúde afirmar a compra das doses da CoronaVac
Após o Ministério da Saúde anunciar a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, na última terça-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quarta-feira (21) através das suas redes sociais que o Brasil não irá comprar a "vacina da China". Depois de muitos comentários dos seguidores, o presidente respondeu alguns afirmando que tudo logo seria esclarecido e que não haveria a compra da vacina.
Em seu post de pronunciamento a respeito, Bolsonaro se referiu a CoronaVac como "A vacina chinesa de João Dória" e afirmou que "qualquer vacina antes de ser disponibilizada à população deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa", declarando também que os brasileiros não irão servir de cobaia. Segundo o Ministério da Saúde em seu anúncio, as vacinas da Sinovac e a de Oxford, também em acordo com o ministério, precisam ser liberadas pela Anvisa e possuir eficácia e segurança garantidas antes que se inicie a imunização.
De acordo com fontes do Planalto em contato com o blog da Andréia Sadi, foi informado que o governo não irá recuar a compra, mas que existem duas condições para que seja aceita: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisará aprovar a vacina e a não obrigatoriedade da vacinação.
Alguns governadores e secretários de saúde estão contra a decisão de Bolsonaro em não comprar as vacinas chinesas. "Se Bolsonaro desautorizar o amplo acordo feito por PAzuello, ele mais uma vez estará sabotando o sistema de saúde e criando uma guerra federativa. Espero que bons conselheiros consigam debelar esse novo surto de Bolsonaro", afirma o governador do Maranhão, Flavio Dino, que irá tentar recorrer na Justiça para que possa ter acesso às vacinas. E o governador acrescentou que "Bolsonaro não pode dispor das vidas das pessoas para seus propósitos pessoais. E Bolsonaro vai perder se novo se insistir com mais essa agressão insana aos estados".
Já o governador da Paraíba, João Azevedo, se mostrou indignado com a atitude do presidente. "É para deixar todo mundo perplexo. Depois de uma reunião com quase todos os governadores do país, com Fiocruz, Butantan, representantes de municípios, o ministro afirma, dando esperança para o país, que vai fazer aquisição da vacina do Butantã, e também a Fiocruz, oferecendo segurança. E então o presidente da República, numa decisão impensado, anuncia que não vai fazer a compra da vacina chinesa". Para o governador, "Vacina não é de direita ou de esquerda, o que interessa é que tenha eficácia. Se for isso [que o presidente falou], vai ter consequência muito grave".
Em seu pronunciamento online, o presidente alegou que "não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou fase de testagem", se referindo ao valor de R$ 1,9 bilhão que precisa ser desembolsado para a compra da vacina. No entanto, o próprio presidente assinou uma medida provisória em agosto que permite a liberação de R$1,9 bilhão de recursos destinados para a compra de 100 milhões de doses da vacina de Oxford, que está sendo desenvolvida em parceria com a farmacêutica AstraZeneca e também está em fase final dos estudos. Já foi feito um acordo pelo ministério para que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) receba a tecnologia de produção da vacina.
A declaração de Bolsonaro referente ao valor das doses também cai em contradição com o que o presidente realizou durantes os últimos meses defendendo e incentivando o uso da hidroxicloroquina, medicamento que não possui nenhuma eficácia comprovada contra o coronavírus. A pedido do presidente, foram produzidos cerca de 3 milhões de comprimidos do medicamento pelo Exército brasileiro em julho deste ano e os custos da produção chegaram a mais de R$ 1,5 milhão, se tornando alvo de investigação do Ministério Público de Contas.
Outros países já se adiantaram para a compra das vacinas e estabeleceram acordos para que possam garantir o estoque do imunizante após o registro das vacinas. Como os Estados Unidos que fez a compra de 100 milhões de doses da vacina em um acordo de R$ 10 bilhões com a Pfizer para recebê-las ainda este ano.
Em acordo fechado pelo governo de São Paulo com a Sinovac, as 46 milhões de doses seriam compradas pelo governo federal e o Brasil receberia 6 milhões das vacinas prontas até dezembro deste ano, as outras 40 milhões seriam finalizadas pelo Butantan. Então, até o final do ano o instituto já teria recebido todas as 46 milhões de doses prontas, além da transferência de tecnologia para que pudessem fazer a fabricação no Brasil no início de 2021.
Também foi anunciado pelo governo paulista que a intenção seria adquirir mais 15 milhões de doses da vacina até fevereiro de 2021, contabilizando 61 milhões de doses e, com o dinheiro do governo federal e mais as 40 milhões de doses já adquiridas antes, o Brasil chegaria a 100 milhões de doses até maio de 2021.
O secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse em entrevista ao GloboNews que acredita que Bolsonaro tenha se referido às 6 milhões de vacinas que chegarão prontas da China e não às 40 milhões que serão finalizadas no Brasil. Espera-se que a intuição do secretário esteja certa e que o presidente possa voltar atrás na sua decisão ou esclarecê-la melhor.
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