Com a retirada das forças americanas e a fuga do Presidente do Afeganistão, Talibã assumiu o controle da capital de Cabul
Com a retirada das forças americanas e da Otan no Afeganistão, em julho, o grupo fundamentalista Talibã iniciou uma sequência de ataques a diversas províncias do país, conquistando o controle de todo o território Afegão. No domingo (15), após a fuga do Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, a capital Cabul foi tomada pelo Talibã.
Confira o momento após Talibã tomar o poder, moradores tentam fugir pelo aeroporto: https://www.youtube.com/watch?v=FddZArx6FWs
A fuga de Ghani aconteceu por meio de uma intimidação do Talibã ao cercar a capital visando conseguir a "transferência pacífica do poder”. O controle do poderio pelo Talibã acontece após 20 anos de intensa coalizão militar internacional no país asiático. Em comunicado, o grupo divulgou que “o Emirado Islâmico ordenou que suas forças entrem nas áreas de Cabul abandonadas pelo inimigo por causa do risco de roubos e furtos", e informou que "os talibãs receberam a ordem de não atacar civis nem entrar em suas casas".
Veja a declaração do Emirado Islâmico sobre a necessidade de Mujahideen (combatentes) entrar em Cabul, após a fulga do Presidente do Afeganistão:
Com o retorno do Talibã no poder, mulheres e jovens afegãs temem pela deterioração de suas liberdades civis conquistadas. O grupo fundamentalista, que já havia governado o Afeganistão entre 1996 e 2001, impôs a Sharia, lei islâmica que restringe a mulher de trabalhar e meninas de frequentarem a escola, bem como as mulheres são obrigadas a cobrir o rosto em público e estar sempre acompanhadas por um homem caso queiram sair de casa. A representante afegã na ONU, Aisha Khurram, de 22 anos, escreveu em seu twitter: “ Alguns professores despediram-se das suas alunas quando todos foram evacuados da Universidade de Cabul esta manhã... e podemos não ver a nossa formatura como milhares de estudantes por todo o país”. Em outro tweet a Khurram reforça que “os afegãos não mereciam isto”.
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, ao realizar seu discurso ao Conselho de Segurança enfatizou que a comunidade internacional espera que os Talibãs respeitem o direito humanitário internacional e os direitos fundamentais dos afegãos, principalmente das mulheres e jovens afegãs. Guterres, ao se referir aos atuais acontecimentos disse que "todos nós temos visto as imagens em tempo real. O caos. Inquietação. Incerteza. E medo" e apelou para “ todas as partes proporcionarem aos humanitários um acesso sem entraves para a prestação de serviços e ajuda”.
Em declaração conjunta, o Governo dos EUA e países incluindo Austrália, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, República da Coreia, Qatar e Reino Unido disseram que "aqueles que ocupam posições de poder e autoridade em todo o Afeganistão têm responsabilidade pela proteção da vida humana e dos bens, e pela restauração imediata da segurança e da ordem civil". E acrescentaram que “a comunidade internacional, está pronta para ajudar". O comunicado pede abertura de estradas, aeroportos e postos de fronteiras para que os afegãos consigam sair do país.
Em meio ao pânico dos civis, o Reino Unido anunciou ontem (16) que irá renunciar as regras das fronteiras para conceder a entrada dos afegãos. Além disso, os voos de evacuação, no aeroporto de Cabul, foram realizados, na manhã de ontem, pela Alemanha, França e Estados Unidos para retirar cidadãos nacionais e funcionários diplomáticos. Os Estados Unidos tiveram que interromper seus voos civis e militares por efeito da multidão que começou a invadir a pista ao tentar entrar em aviões que deixavam o país. Estima-se que o avião americano decolou com 640 passageiros tendo capacidade para somente 100.
A rápida aquisição do país pelos Talibãs, desloca o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para o espectro de fortes críticas pela forma como a sua administração lidou com a política afegã. Em pronunciamento transmitido para TV, Biden disse que após 20 anos aprendeu que não existe uma "boa maneira de se retirar (as tropas)" do Afeganistão. E acrescentou que a missão dos EUA já tinha sido alcançada com a morte de Osama Bin Laden.
"Não vou repetir os erros que cometemos no passado, de duplicar um conflito que não é do interesse nacional dos Estados Unidos. São erros que não podemos continuar a repetir quando temos interesses significativos em todo o mundo que não podemos dar-nos ao luxo de ignorar", disse Biden.
No momento atual, Talibã discute sobre o futuro do novo governo, o que inclui sua estrutura e nome. O debate acontece em Doha, capital do Catar, e será apresentado um relatório em breve. O vice-líder político do Talibã, Mullah Abdul Ghani Baradar, disse que o momento atual é um teste para o grupo pois agora são “responsáveis pela segurança das pessoas”.
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