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Marina Marques

Profissionais de limpeza pública enfrentam pandemia com descaso e insalubridade

Garis e margaridas estão cada vez mais expostos pela falta de EPIs e aumento de trabalho


Por Marina Marques


Margaridas trabalhando no Centro da cidade de Santos | Fotografia: Marina Marques

Há um ano, profissionais essenciais se encontram cada vez mais expostos ao Coronavírus e, entre eles, os profissionais de limpeza pública, mais conhecidos como garis e margaridas. Com o trabalho diário na manipulação de resíduos, possivelmente contaminados, os funcionários encontram-se sujeitos a infecções diversas e, neste último momento, à contaminação da Covid-19, já que há muito descarte de máscaras e outros elementos que possam estar contaminados e, muitas vezes, sem os equipamentos necessários para evitar doenças.


“A gente está com muito medo de trabalhar sim”, afirma Claudia Silva, que trabalha há 7 anos como margarida na cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo. Ela deixa claro que, desde o início da pandemia, não houve nenhum amparo por parte da prefeitura, “não deu o material devido, luva, máscara, uniforme”, mas que seguem no aguardo de outro contato, que só aconteceu durante as eleições municipais.


Em um momento difícil na saúde brasileira, os trabalhadores da cidade, que antes possuíam como um dos benefícios o plano de saúde, hoje precisam pagar parte do valor, e o trabalho aumentou. “Eu limpo sete ruas, é muito lixo. As pessoas não respeitam, eu achei que com a pandemia iam ter mais respeito, manter as ruas limpas. Além de não respeitar nós, profissionais, que tentamos manter o bem estar de todos com a limpeza”, alega. Com mais pessoas em situação de rua, lixos que eram mantidos nas calçadas, para a coleta, muitas vezes se encontram rasgados e espalhados, o que aumenta o serviço diário dos garis.


Além da falta de EPIs e materiais básicos para manter a segurança dos funcionários, há muito descaso quando se trata do dia a dia de trabalho. “Eu e minha parceira comemos no banheiro, que inclusive está cheio de umidade e mofo, se tem dinheiro, come, se não, traz de casa ou não come”, declara Claudia, que espera um dia poder ter um refeitório, ou um espaço adequado para fazer as refeições, tendo muita esperança de melhorias. “Muitas vezes não há lugar para ir ao banheiro, precisamos correr atrás de um, com perigo de pegarmos infecção de urina”, finaliza.


“Um ano de luta, eu achava que o governo nos daria respaldo, mas fomos levados em banho Maria”, comenta Cristiano Gazzane, que trabalha como gari, junto de Claudia, no município da Baixada Santista. O trabalhador afirma que não houve ajuda com máscaras ou álcool gel, precisando comprar por conta própria, “ficamos calados por medo de represália, só nessa nova gestão estamos sendo notados”.


O funcionário público tenta manter todos os cuidados necessários para que não corra o risco de levar nenhum tipo de doença para casa, mas o medo é constante. “Toda vez que volto do trabalho vem na minha cabeça, ‘será que peguei será que consegui me proteger?’ ”. A pandemia tem afetado Cristiano tanto com as preocupações de infecção como financeiramente, já que possui três filhos, e a produção de doces que sua esposa fazia, para que vendesse no trabalho, teve que ser interrompido.



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