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Produtora cultural do RJ acusa PM por estupro após denúncia por uma discussão em seu prédio

O caso está sendo analisado pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ e vítima precisou solicitar quebra de sigilo telefônico para provar que não tem nenhum contato com o acusado


Por Natasha Silveira


Foto: pixabay

Uma produtora musical do Rio de Janeiro denunciou um policial militar do 19º BPM, em Copacabana, por estupro em sua própria residência. S., de 31 anos, informou em entrevista ao jornal O Globo que havia chamado a polícia após um desentendimento com uma vizinha em seu prédio no dia 17 e ambas foram levadas até a delegacia pelo policial. Uma semana depois, na segunda-feira (24). o policial retornou ao apartamento da produtora dizendo que precisava de alguns dados para a finalização da ocorrência, quando supostamente ocorreu o estupro.


Pelas câmeras de vigilância do edifício consta que um policial permaneceu aguardando na portaria enquanto o outro subia até o apartamento da vítima. "Acordei com meu porteiro me ligando e me perguntando se estava acontecendo algo no meu apartamento, pois um policial estava lá. Ouvi a voz do PM falando para o porteiro que era sobre a ocorrência da semana anterior, e ele precisava falar comigo", disse a vítima.


O policial entrou em seu apartamento e fez algumas perguntas a respeito dos seus vizinhos, e então ele começou a tocá-la, tentando tirar suas roupas, tocando em seus seios e lambendo seu pescoço, chegou ainda a realizar penetração com a mão. A produtora afirmou que o ato só foi interrompido após ela dizer que seu namorado também era policial e que as câmeras de segurança do prédio estavam filmando tudo. Mas o caso não parou por aí. A mulher voltou na delegacia para fazer a denúncia do policial, porém foi recebida com diversos questionamentos a respeito do acontecimento, incluindo se ela possuía algum contato com o agente em questão. Foi então que a produtora precisou solicitar a quebra de sigilo do seu telefone.


"Tenho que provar que eu nunca conversei com esse homem. Eu mesma pedi a quebra. Fizemos um registro na Anatel para pegar a relação das minhas ligações. Ontem pesquisei no Google 'estupro' e 'PM' e o número de meninas que são estupradas... Vi uma menina de 17 anos que precisou provar que foi estuprada. Por que a gente luta para provar que foi estuprada? Isso dói. A nossa palavra não basta." relatou a produtora.


"O tempo todo eles fizeram pegadinhas para me testar e ver se eu estava mentindo. Toda vez que eu reconhecia ele, trocavam de foto. Aquilo para mim foi muito humilhante. Eles me perguntaram muito sobre minha vida financeira e como eu conseguia pagar meu aluguel em Copacabana. Tive que dar meu número de registro no Ecad, provar que tenho CNPJ, mostrar a carteirinha do sindicato para ser ouvida. Como mulher, você tem que provar que não é prostituta. E se for, não presta e tem que ser estuprada?", conta a vítima.


Ela precisou solicitar três vezes a reimpressão do seu depoimento, pois notou informações erradas ao que tinha informado. "Me perguntaram se eu tinha vínculo empregatício e eu falei que trabalhava por obra cultural, mas resumiram escrevendo: 'não trabalha'. Então eu tive que falar: 'vou te explicar de novo. Existe um sindicato que me regula, e eu trabalho por obra, como muita gente'. Aí ele me perguntou como eu trabalhava em plena pandemia e eu expliquei que as lives e outras atividades da produção musical estavam acontecendo".


A descrição do seu atestado do Instituto Médico Legal (IML) apresenta "vestígios de ato libidinoso da conjunção carnal" por "ação violenta contundente", entretanto, a vítima notou que a informação de que seus pelos da genitália estariam "raspados" não é válida, pois a mesma afirma que não possui os pelos por realizar a depilação a laser. "Eu fui então até a rede em que faço minha depilação, que procurou meu contrato anual para provar que eu não estava depilada para a ocasião. Eu não tenho pelos pois faço depilação a laser. É um absurdo, mas eu estou tendo que provar tudo, e não ele. Hoje, eu que vivo na condição de presa, na casa de amigos, com medo. Não ele."


A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ está analisando a denúncia e o caso será acompanhado também pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio. A advogada da vítima, Bárbara Guedes, disse ao jornal O Globo que todo apoio é bem-vindo, "Ela é vítima de um policial militar, e eu também sou mulher, brigando sozinha pelo caso dela, então quanto mais gente do nosso lado nesse caso que envolve tanto corporativismo, melhor".


Em nota, a Polícia Militar divulgou que "segundo o comandante do 19º BPM (Copacabana), a declarante foi prontamente atendida e ouvida a termo, procedimento de praxe para dar seguimento a apuração dos fatos. Informamos ainda que foi aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da ocorrência. A Corporação, como tem demonstrado ao longo de sua história, não compactua e pune com o máximo rigor desvios de conduta cometidos por seus membros".


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