Uma junção de fatos e conceitos para compreender esse mal que nos assola há séculos
Obra "Operários" de 1933 por Tarsila do Amaral (Créditos: Governo do Estado de São Paulo)
Nesta vasta terra com mais de 500 anos, quase sempre destacamos as desgraças. Catástrofes naturais, políticos ruins e corruptos, falta de acesso à educação, saúde, cultura, incentivos à prática esportiva e tantos outros. Nem dá para negar que isso é verdade e, de "quebra", a pandemia escancarou ainda mais a desigualdade social e econômica que nos separa. Assim, o complexo de vira-lata vai além das linhas informativas e cruza ideias pré programadas.
Um dos males que sufocou as origens brasileiras foi o conservadorismo exacerbado, proveniente de uma Europa cristã e que visava a exploração a qualquer custo. Para estes, tudo bem a escravizar e exercer poder violento, desde que os joelhos se dobrassem nas missas por livre e espontânea pressão. Algo um tanto irônico, já que consideravam a maioria sem alma, logo, não havia o que ser salvo. Na teoria, é mais uma das práticas para "inglês ver".
Toda e qualquer manifestação cultural ou religiosa que não fosse da linhagem dos colonizadores era vista como suja, totalmente carnal e sem proveito. Porém, estes ibéricos eram os mesmos que iam atrás de aventuras extraconjugais com moças das tribos, em sua maioria jovens e de aspecto virginal, ou seja, mais uma das hipocrisias. Muitas mulheres negras escravizadas e marginalizadas passaram longe dessa "sorte" de viverem um amor, eram violentadas e ainda tinham que lidar com as humilhações de suas senhoras. Mas, qual opção elas tinham?
Milhas distanciaram o sonho de se ver livre da servidão vivida por aqui. Enquanto isso, as melhores pessoas vinham pra cá. Só gente boa mesmo. Em sua maioria ladrões e pessoas não influentes de Portugal. O "refugo" que nem servia lá, foi trazido de bom grado para cá. Além de tantas doenças, principalmente as sexualmente transmissíveis e virais, que desembarcavam junto com os belos rostos cobertos por pó de arroz e maquiagem forte.
Não compensa muito esmiuçar todos os períodos de Colônia e República porque o que destaca é a falta de consideração e o mínimo de humanidade para nosso povo, este ainda sente os fortes chutes da vida diariamente. Muitos até arriscam dizer que melhor seria devolver o país para os índios e pedir perdão, pois não existem mais características que nos liguem verdadeiramente à matriz original da história desta nação.
Por vezes, o brasileiro parece sofrer não só do complexo de vira-lata e viver de constantes crises de autoestima, mas, de brinde adquiriu a síndrome de Estocolmo. Depois de tanta exploração e sofrimento, nutre paixão por seu abusador. Os olhos sempre brilhando para tudo que vem de fora. Música, esportes, artes abstratas ou não, conceitos políticos, ideias filosóficas e até mesmo o que foi criado aqui, é mais valorizado quando está lá. Um artista do Brasil só tem real valor quando se apresenta no Madison Square Garden, por exemplo.
Os fãs brasileiros são frequentemente considerados os melhores por músicos internacionais. Artistas como Justin Bieber, Ariana Grande, Katy Perry e muitos outros concordam com isso. Quantos relatos em entrevistas já não vimos em que estes citam ‘não conseguirem se ouvir' enquanto se apresentam por causa da cantoria em meio aos gritos? Dezenas provavelmente. É um tipo de elogio bom, mas que explicita algo nas entrelinhas.
Estamos isolados de toda e qualquer ligação ancestral com nossos três povos de origem: não somos europeus o “suficiente”, indígenas só em algumas instituições de palavras ao idioma e de matriz africana em alguns aspectos culturais, mas com tantas misturas que também mescla esse gene. Em suma, uma mistura em que o elemento X do professor Utônio parece ter sido derramado sem precedentes. E, igualmente, as filhas adotivas do Dr., são três personalidades distintas, mas juntas: essa é a genealogia histórica do Brasil.
É em meio a este cenário que a baixa autoestima e a vergonha de ser brasileiro perpetua entre nós. Talvez seja menos evidente em alguns, principalmente aos que curtem músicas e obras nacionais, têm jogadores brasileiros como ídolos, entre outras coisas. Não existe uma fórmula exata, mas diversas razões que trazem essa marca no DNA brasileiro. Resta rever conceitos e atitudes para nos vermos livres aos poucos desse emaranhado de falta de identificação.
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