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Paula Sant'Ana

Serviço doméstico: realidade de mulheres em meio à pandemia

Executado majoritariamente por elas, muitas veem alternativa para se manter financeira


Foto: Pixabay

Segundo dados do IBGE, mais de 6 milhões de brasileiros atuam como empregados domésticos no Brasil. Destes, cerca de 97% são mulheres, a maioria prestam serviços sem carteira assinada. O cenário de desemprego, juntamente às demissões por conta da Covid-19 têm influenciado grandemente neste número, pois muitas encontram nessas alternativas uma renda para auxiliar seus maridos ou, até mesmo, buscam sobreviver e ainda cuidar dos filhos.


Longe da família, Lindi*, divorciada, 43, trabalha há oito meses em uma residência no bairro Santa Cecília, zona oeste de São Paulo. Seu serviço consiste em servir almoço e jantar. Na casa em que trabalha como cozinheira, o proprietário de 92 anos precisava de alguém para dormir no local. Devido a sua situação, acatou a proposta, pensando principalmente em seus quatro filhos. "Eles aceitam normal porque não estão aqui em São Paulo, estão todos na Bahia. Então trabalho e mando dinheiro para as despesas deles lá", comenta a cozinheira.


Em diversos lares, prestadores de serviços são considerados os principais propagadores do vírus. Por isso, afirmam preferir que o funcionário permaneça na casa mesmo após expediente. Recentemente o discurso do marido de Ivete Sangalo trouxe revolta devido a linguagem utilizada. "A covid chegou pela funcionária (...) Esse lance de passar uma semana aqui e folgar, ela acabou trazendo pra cá", disse Daniel Cady em diálogo com Regina Casé.

Os chefes de Lindi* também acreditam que permanecer na residência é a melhor forma de não trazer o vírus, pois veem o transporte público como um super contaminador. "Meus patrões preferem que nós funcionários permaneçamos em casa, mesmo na folga para evitar contato com outras pessoas. Não querem que viajemos nem de metrô nem ônibus pra nos proteger e proteger a eles também do vírus da Covid-19", explica a funcionária.


Já Mari*, casada, 30, encontrou no trabalho de diarista um respiro financeiro para a família. Há pouco mais de um mês surgiu a oportunidade que queria para ajudar o marido com as despesas e o filho do casal. É no bairro Rocha Miranda, zona norte do Rio de Janeiro, onde a ex-agente de saúde vai à luta. "Ajudou nas compras de casa, o restante da renda que vem através do emprego do meu esposo e nós pagamos as contas", comenta Mari*.


São cenários diferentes de uma mesma realidade, pois muitas mulheres têm como alternativa os serviços domésticos, principalmente quando saem de um emprego com carteira assinada, o caso da Mari*. A realidade no lar e a perspectiva de futuro sofreram alterações. "Antes da pandemia eu estava querendo estudar e fazer um concurso público para ter estabilidade. Tinha acabado de ser demitida do cargo de agente de saúde comunitário onde eu era bem remunerada para minha escolaridade. Mas com a pandemia tudo mudou.", reflete a diarista.


Apesar de rotinas cansativas e histórias de garra, a esperança de ambas permanece de um presente e até mesmo futuro melhor para elas e suas respectivas famílias. "Depois de tudo isso que o mundo está vivendo, pretendo me organizar e voltar pra Bahia e permanecer com minha família", é o desejo de Lindi*. "Ainda procurarei um emprego de carteira assinada mesmo com a pandemia", está é a meta de Mari*.


*Nomes substituídos por apelidos por conta de detalhes pessoais das entrevistadas

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