OPINIÃO: Babá, aquela que é quase da família
- Femme News

- 20 de jul. de 2020
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A construção de carinho e afeto, durante a relação entre a babá e a pequena pessoa que está sob seus cuidados
Por Luana Gomes
Mulheres que abdicam de suas vidas. Um trabalho que as obrigam a ficar dias sem voltar para seu lar, voltar para seus próprios filhos. É correto afirmar, que muitas dessas mulheres sonham em sair do aluguel, e talvez, quitar suas dívidas. Acordam com o céu ainda escuro, para alimentar a criança que aprendeu a dar amor, todos os dias, sendo que, muitas das vezes, é um sacrifício ter esse tempo com suas própria crias.
Com o intuito de formalizar e dar direitos aos profissionais, que se encaixam na categoria de empregados domésticos, em 2012, a PEC das Domésticas, foi assinada. Os empregados domésticos correspondiam 6,24 milhões de pessoas, em 2018, segundo o IBGE, com 4,42 milhões (72%) deles sem a segurança da carteira assinada.
Elas não se esforçam tanto apenas para fazer valer o que recebe ao final do mês, mas pelo fato de, quase sempre, acabam depositando as glórias do mundo materno, na criança que ela assiste evoluir, dia após dias, porque não pode fazer o mesmo pelo sua.
Céus! Mas essas mulheres trabalham para vestir seus próprios filhos, mesmo que os vejam pouco, mesmo que não tenha visto o primeiro dente cair, e saiba o momento exato, que o dente do filho da patroa, caiu.
Concordo quando dizem que nem todas têm filhos, mas completo dizendo que, as que não geraram uma vida e, trabalham igualmente, de modo integral, também são pagas para viver a vida de seus patrões.
A razão pelo aumento dos número de trabalhadores informais, para os especialistas, o principal motivo é a crise econômica, que teve seu início em 2014. Muitas famílias decidiram demitir os funcionários de carteira assinada, optando pelos profissionais informais. Essas é mais uma das dolorosas realidades deste país.
Peço licença ao caro leitor, para fazer um pequeno gancho com a amas de leite.
Bom, possivelmente, de maneira torta, ambas abdicaram de suas vidas, da criação dos seus próprios filhos, pelo o de terceiros. É compreensível que, as babás, assim como qualquer outro cargo, precisam do emprego, dos frutos de seus esforços, porém, o ponto é, muitas babás ganham “o bilhete premiado mascarado”, quando recebem a propostas de se mudar para a casa de seus patrões, de passar as férias com eles, de ganhar um imóvel no mesmo terreno, da casa em que trabalha, ou quando sinalizam o desejo que sua funcionária não se case, não tenham filhos, para que possam ter a certeza de sua liberdade, para viverem a vida que lhe pagam. Seu direito é quase não ter direito, seu direito é servir, cuidar, educar, acarinhar, não há dias ruins, não tem motivos para atrasos, você é da família, mas só até a porta do quarto.

Na época da escravidão, as escravas que davam à luz, eram direcionadas para a casa de seu senhor, tendo como missão, alimentar o recém nascido branco e, tomar conta da criança em tempo integral. Já seu próprio filho ficava sob a responsabilidade, cuidados de outros escravos, e não tinham acesso ao leite materno, como o bebê branco, então, por serem alimentados com leite animal ou com uma espécie de papa de mandioca, eles acabavam morrendo.
As amas ganhavam roupas novas, alimentação suplementar, viajavam com a família, porém, também sofriam por não amamentar seus filhos.
Existiam também as “escravas lactantes”, essas mulheres trabalhavam para várias famílias ao mesmo tempo, como amas de leite, já seus filhos, o destino era quase sempre o mesmo, eles eram vendidos, doados, abandonados ou deixados na Roda dos Expostos - lugar onde os bebês eram abandonados na época colonial, ficando sob os cuidados de instituições caridosas.

Amamentar seu próprio filho virou sinônimo de selvageria, hábito primitivo, por ser um costume das índias tupinambás - com a chegada dos portugueses ao Brasil, antes do dever de amamentar ser das escravas negras, as índias jovens chegaram a assumir esse papel.
A diferença abismal entre as amas europeias e as amas negras, estava no significado que os escravos tinham para seus senhores, já que só eram vistos como propriedades, animais e, as amas era vistas como meras vacas, como um objeto, uma mercadoria.
Por volta do século XVIII, era meio que “fora de moda”, cuidar de seus próprios filhos. As mulheres se preocupavam com a estética corporal, também não era bem visto amamentar perto de terceiros, pois significava desrespeito. Já para os homens, eles “se sentiam” obrigados a escolher entre ter relações extraconjugais ou ter uma ama de leite, pois as relações sexuais eram proibidas, durante o aleitamento.
*Fontes: periodicos.ses.bvs.br
brasilianaiconografica.art.br
Babás - Curta metragem de Consuelo Lins
atarde.uol.com.br
6minutos.com.br



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