Depois de fracasso no ensaio anterior, nova iniciativa estuda três novas fórmulas
Depois de um ano e meio de pandemia, a busca por um medicamento eficaz no combate a Covid-19 depois de o vírus já ter se instalado no corpo permanece sem conclusão.
Ao contrário do sucesso das vacinas contra o coronavírus, nenhum dos medicamentos testados anteriormente ou novas terapias obtiveram resultados concretos, mas isso pode mudar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou um macroensaio global com três novos medicamentos, utilizados no tratamento de outras doenças, mas que têm potencial para servir também no combate ao coronavírus. O objetivo não é atacar diretamente o vírus, e sim amenizar a resposta do sistema imunológico.
Com uma variedade enorme de vacinas, tanto em uso quanto em desenvolvimento, a OMS diz que a ausência de um tratamento eficaz para quando o quadro de Covid-19 se agrava – além da ventilação mecânica – é alarmante.
Diversos tratamentos já foram testados, de antivirais utilizados no tratamento de outras patologias (como a infecção pelo HIV) a terapias monoclonais (que utilizam as defesas criadas por uma pessoa infectada, aumentando-as em laboratório), até antimicrobianos contra a hanseníase.
Uma iniciativa criada pela OMS no início da pandemia, a Solidariedade, se concentrava nas regiões no mundo que tinham menos chances de conseguir doses de quaisquer vacinas e tinha o objetivo de explorar a possibilidade de eficácia de quatro fórmulas consideradas promissoras - como a cloroquina e o remdesivir - no combate ao coronavírus. No entanto, depois de estudos com milhares de pacientes em diversos países, ela comprovou exatamente o contrário.
Agora, a OMS lança o Solidariedade PLUS, com três novas fórmulas que começarão a ser testadas em pacientes.
“Trata-se do primeiro ensaio verdadeiramente mundial” disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na entrevista coletiva em que apresentou a mais nova iniciativa. O estudo já foi iniciado na Finlândia e será estendido para 600 hospitais em 52 países.
O plano, desta vez, é descobrir se algum dos medicamentos consegue amenizar a resposta do sistema imunológico quando ela se agrava e, ao invés de proteger, passa a atacar a pessoa infectada pelo coronavírus.
Em muitos pacientes, o novo coronavírus gera uma ativação exagerada de defesas. O motivo desse fenômeno ainda é desconhecido, mas sabe-se que este é o motivo pelo qual muitos casos se agravam e acabam na UTI, e não pelo vírus em si.
Por este motivo, somado ao conhecimento adquirido nos ensaios anteriores, três novos medicamentos que agem na resposta imunológica foram selecionados, são eles:
Imatinib: Doado pela Novartis e indicado para alguns tipos de câncer, é uma molécula desenvolvida nos anos 1960 como uma nova ferramenta da quimioterapia que inibe determinadas enzimas em células cancerosas. No ensaio, será administrado aos pacientes com quadro grave de Covid-19 durante 14 dias - ensaios menores indicam que poderia reverter os danos pulmonares provocados pela reação imunológica.
Artesunato: Produzido e doado pela farmacêutica indiana IPCA e indicado, até agora, para o tratamento da malária, é baseado na síntese da artemisinina, ingrediente de uma planta da medicina tradicional asiática. No ensaio, será administrado por via intravenosa durante 7 dias, na mesma dose que a indicada para casos graves de malária – o painel de especialistas recomendou esse medicamento por suas propriedades anti-inflamatórias.
Infliximabe: Produzido pela Johnson & Johnson e usado para o tratamento de algumas doenças autoimunes, é um anticorpo monoclonal que interfere no processo inflamatório. No ensaio, será injetado em dose única.
O Solidariedade PLUS contará com a participação de mais de mil pesquisadores, e apesar de os resultados só estarem previstos para o segundo semestre de 2022, a OMS espera ter os resultados preliminares ainda no fim deste ano.
Segundo Marco Medina, pesquisador da Universidade Nacional Autônoma de Honduras e responsável pelo ensaio Solidariedade no país, “encontrar uma cura é crucial, assim como o acesso às vacinas”.
Deus queira que dê certo!