O acusado só foi demitido depois que se iniciou a investigação e alegou ter sido só uma “brincadeira”
Por Natasha Silveira
Uma mulher negra foi demitida depois de denunciar atitudes racistas e de intolerância religiosa, por ser do candomblé, de um colega de trabalho. O caso ocorreu em uma das unidades do hipermercado Atacadão ligada ao Carrefour, na Zona Oeste do Rio, a mulher atuava como auxiliar de cozinha e alegou ter recebido as ofensas desde o dia em que começou a trabalhar no local. O motivo da sua demissão foi que ela havia "se envolvido em situações de conflito com outros funcionários".
A mulher é Nataly Ventura da Silva, 31 anos, que informou a GloboNews que após ter sido demitida foi ao refeitório para buscar seus pertences e encontrou um avental com a frase "Só para branco usar" escrita. A frase ainda foi assinada pelo outro funcionário que Nataly havia denunciado. No seu depoimento, Jefferson Emanuel Nascimento admitiu ter sido o autor da frase, mas disse que se tratava apenas de uma "brincadeira" e que ele não é racista.
"Eu fui desligada da empresa. Voltei no refeitório pra poder buscar meus pertences, celular, bolsa de remédio, carregador, e estava lá o avental. No mesmo momento eu tirei a foto, fotografei, mas fiquei muito chateada. Eu me senti menor que uma formiguinha. Eu me senti tão mal que eu fui pra trás chorando, cheguei em casa chorando e fiquei com aquilo na cabeça perguntando o porquê, mas não sou eu que tenho que me perguntar o porquê", relatou Nataly.
Apesar da denúncia, os gestores da unidade só realizaram a demissão de Jefferson depois que foi iniciada a investigação do caso pelos promotores, antes a única punição ao autor da frase foi apenas para apagar a mensagem. O Atacadão informou que foi aberta uma sindicância para que fosse feita a apuração e que isto "resultou no desligamento do colaborador em questão". Segundo os documentos internos da unidade, Jefferson já foi acusado de racismo e agressão anteriormente por outro colega de trabalho nessa mesma unidade.
O Ministério Público está em uma ação contra o hipermercado e solicita que seja feita uma indenização de até R$ 50 milhões por dano moral coletivo, e também pela recontratação da vítima. Em entrevista à GloboNews, a procuradora do Ministério Público, Fernanda Barbosa Diniz, ressaltou o quanto é importante realizar a denúncia em casos de racismo no local de trabalho. "O que nós buscamos é que a empresa crie um ambiente de trabalho seguro para os seus trabalhadores. Hoje, a gente vive numa sociedade só para branco usar. E a nossa resposta quanto sociedade é qual? É a mesma resposta da chefia da Nataly, é apagar, esquecer, esconder. O que nós não podemos é continuar perpetuando essa prática", disse a procuradora.
Em nota, o hipermercado divulgou que "O Atacadão atua a partir de políticas sérias de diversidade e repudia veementemente qualquer tipo de discriminação. Assim que tomou conhecimento do caso por meio do Ministério Público do Trabalho, abriu rigorosa sindicância para apurar o ocorrido, que resultou no desligamento do colaborador em questão. A empresa reforça que, quando a denúncia do episódio mencionado foi realizada, a colaboradora já tinha sido desligada após avaliação de desempenho do período de experiência de 90 dias. O Atacadão conta com um canal exclusivo para denúncias, para que os funcionários possam reportar casos internamente de forma anônima."
No entanto, essa não é a primeira vez que o hipermercado está envolvido em assuntos sérios. Em agosto deste ano, foi divulgada uma imagem de um funcionário morto coberto por guarda-sóis em uma das unidades do Carrefour em Recife. O caso repercutiu nas redes sociais e foi alvo de muitas críticas. O funcionário faleceu enquanto trabalhava e seu corpo permaneceu no local durante quatro horas, sendo apenas coberto pelos guarda-sóis até a chegada da equipe do Instituto de Medicina Legal (IML). O Carrefour emitiu uma nota informando que está modificando o protocolo e que as lojas serão fechadas em casos de mortes dentro das unidades.
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