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Jennifer Rodrigues

Dia Nacional da Mata Atlântica: conhecer para preservar

Veja os dados mais recentes ,os principais atores do desmatamento e as possíveis soluções

Foto: Unesp Ciência

O ciclo do ouro, o ciclo do café, o ciclo da cana todos eles passaram pela segunda maior floresta pluvial do mundo a Mata Atlântica. No início ela cobria 15% do território brasileiro, uma área equivalente a 1.310.299 Km2. Hoje, restam 12,4% de remanescentes originais. Levando em consideração os fragmentos bem conservados, acima de 100 hectares, o número diminui, ficando em apenas 8,5%.


Atualmente a mata Atlântica abriga em seu território oito mil plantas nativas, árvores que chegam a 40 metros de altura, 500 espécies de vertebrados e muito mais. Porém, ainda assim, é o quinto bioma mais ameaçado do mundo.


Segundo a bióloga da Fundação SOS Mata Atlântica, Monica Fonseca, existem muito poucos remanescentes primários do bioma. “A grande maioria dos remanescentes ainda existentes é composta de florestas secundárias em diferentes estágios de desenvolvimento”, disse.


De acordo com os dados do Atlas da Mata Atlântica divulgado nesta quarta-feira (26), entre 2019 e 2020 foram desmatados 13.053 hectares, cerca de 130 quilômetros quadrados, o número é 9% menor que o levantado em 2018-2019 (14.375 hectares). Mas, representa um crescimento de 14% em relação aos 11.399 hectares desflorestados entre 2017 e 2018. O estudo foi realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).


Esse cenário contribui para que a floresta seja considerada um Hotspot. Esse nome é dado quando uma área é rica em biodiversidade e ao mesmo tempo ameaçada de extinção. “A Mata Atlântica, ao lado de outras 33 regiões localizadas em diferentes partes do planeta, foi apontada como um dos hotspots mundiais, ou seja, é uma das prioridades para a conservação de biodiversidade em todo o mundo,” explica a bióloga da fundação SOS Mata Atlântica, Monica Fonseca.


A devastação da Mata Atlântica tem como agente inicial a ocupação territorial e a exploração dos recursos naturais. “Os sucessivos impactos resultantes de diferentes ciclos de exploração como o do pau-brasil, passando pelos ciclos do ouro, da cana-de-açúcar, do café, da concentração da população e dos maiores núcleos urbanos e industriais levaram a uma drástica redução na cobertura vegetal natural, que resultou em paisagens, hoje, fortemente dominadas pelo homem”, esclarece a bióloga da fundação SOS Mata Atlântica.


Além disso, o atual modelo de desenvolvimento segue impactando a mata de maneira negativa. “As principais causas de degradação da Mata Atlântica: desmatamentos para exploração de madeira, abertura de áreas agrícolas e industriais, especulação imobiliária, caça e poluição,” declarou a especialista em ecologia aplicada, ativista e ambientalista, Miriam Prochnow.


A importância da Mata atlântica para o Brasil


O bioma é responsável por diversos processos positivos, entre eles, a regulação do clima, amenizando desastres como enchentes, secas e tempestades, a prevenção da erosão do solo, o fornecimento de espaço para moradia, cultivo, recreação e turismo, a manutenção da biodiversidade, da qual o homem retira elementos essenciais para a melhoria da agricultura.


A floresta contribui ainda para a manutenção de processos que a tecnologia humana não pode substituir como a polinização, a fotossíntese, a decomposição de resíduos e a regulação da composição química dos oceanos.

A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade, mas também abriga grande parte da população brasileira, já que está presente em 17 Estados brasileiros e mais de 3.400 municípios. “Por isso, viver na Mata Atlântica é um grande privilégio, mas também uma grande responsabilidade. Já pensou em um lugar concentrando mais de 1 milhão de espécies de animais? A Mata Atlântica faz isso!”, afirma a especialista em ecologia aplicada, Miriam Prochnow.

Estima-se que no Bioma existam 1,6 milhão de espécies de animais, incluindo os insetos. São 261 espécies de mamíferos, das quais 73 são endêmicas (ou seja, só vivem no bioma). E 620 espécies de aves, das quais 181 são endêmicas. Além disso, a flora da Mata Atlântica corresponde a 35% das espécies existentes no Brasil, aproximadamente 20 mil espécies, sendo 8 mil endêmicas. “É um verdadeiro festival de biodiversidade e por isso é tão importante conservá-la e restaurá-la", declara Miriam Prochnow.

Um caminho para restauração

A crise climática aumenta a perda da biodiversidade e a crise hídrica que já afeta milhões de pessoas em diversas partes do planeta. “O desmatamento e a queima de combustíveis fósseis são os principais fatores que contribuem com o aumento da emissão de gás carbônico (CO2) e outros gases na atmosfera e, consequentemente, o aumento da temperatura global,” afirma a especialista em ecologia aplicada.


Ainda segundo a especialista, com esse cenário de emergência climática, a conservação e a restauração de paisagens e ecossistemas tem se tornado prioridade em âmbito internacional. “As florestas captam dióxido de carbono da atmosfera, refletem calor, ajudam a reter a água da chuva e trazem vários outros benefícios para os seres humanos e o meio ambiente.”

Um estudo publicado na revista Nature, o bioma faz parte de um grupo de ecossistemas em que a restauração de 15% da sua área evitaria 60% da extinção de espécies previstas e, ao mesmo tempo, sequestraria o equivalente a 30% do CO2 lançado na atmosfera desde o início da revolução industrial.

“A Mata Atlântica é um dos biomas com maior prioridade para a restauração no mundo, considerando-se os benefícios para a conservação da biodiversidade e a mitigação das mudanças climáticas", reitera a especialista.

Para a bióloga Monica Fonseca, as principais iniciativas que veio para mudar o cenário de destruição visto hoje no bioma da Mata Atlântica são: enfatizar a criação de unidades de conservação para preservar as principais amostras dos ambientes naturais remanescentes e engajar a sociedade nesse processo. “Proteger essas áreas pode ser a solução para o enfrentamento das mudanças do clima, para a gestão da água e desenvolvimento de atividades de lazer e convívio social, bem-estar e saúde da população.”

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