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  • Foto do escritorNatasha Sioli

Como identificar pessoas tóxicas e como afetam a nossa saúde mental

Conviver com pessoas tóxicas pode levar a crises de depressão e ansiedade


Foto: pixabay

O mês de Setembro foi escolhido para que houvesse a campanha para a prevenção do suicídio, especificamente no dia 10 que é considerado oficialmente como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Somente no Brasil, são registrados, aproximadamente, 12 mil suicídios durante os anos e os números chegam a 1 milhão por todo o mundo, em 96,8% dos casos em que acontece o suicídio estão associados a transtornos mentais, sendo a depressão o primeiro lugar dos casos, seguida pelo transtorno bipolar e o uso de substâncias químicas.


Por esta razão, é importante que tenhamos as pessoas certas ao nosso lado e que também possamos ser a pessoa certa ao lado de alguém que possa passar por isso. Muitas vezes as pessoas que sofrem com algum transtorno nos enviam sinais do que estão realmente sentindo, embora fiquem nas entrelinhas, e que se não percebidos da maneira certa podem ocasionar numa piora da saúde mental dessa pessoa.


É comum ouvirmos falar sobre relacionamentos tóxicos, porém somente em relações amorosas, como namoros e casamentos. No entanto, uma pessoa tóxica pode estar presente em qualquer área das nossas vidas e não é difícil de encontrar alguém que tenha convivido com uma pessoa tóxica por um tempo da sua vida, o desgaste emocional que isso causa também pode estar relacionado às crises de depressão e ansiedade.


Isso porque uma pessoa tóxica tem um impacto negativo em nossa saúde mental. Segundo a psiquiatra Maria Amália Barbosa, "as relações sociais são fatores de proteção para manutenção do bem estar mental, assim, em uma amizade tóxica não está sendo realizado o apoio esperado por uma uma relação e ainda causando um mal estar adicional". Alguns sintomas como baixa autoestima, insegurança, indisposição e sintomas depressivos podem ser caracterizados dentro da vivência de uma amizade tóxica.


A psiquiatra explica que a pessoa tóxica costuma exigir muita atenção, fazendo diversas cobranças e isso faz com que a outra pessoa evite certas atitudes e situações para evitar uma reação negativa, estresse e discussões. Isso é perceptível quando ela passa a se isolar de outras pessoas, depositando sua atenção e tempo apenas para aquela amizade, e se mostra sempre insegura a respeito das suas decisões, recorrendo sempre à aprovação da pessoa tóxica.


Em entrevista ao Femme News, cinco mulheres relataram como foi vivenciar uma amizade tóxica e o processo de entender o mal que as fazia. Para Mylena Yahata, de 23 anos, a amizade consistia em muitas brigas pois a pessoa nunca estava satisfeita, existia um ciúme excessivo de outras pessoas que se aproximavam dela e estava sempre fazendo "críticas construtivas" a seu respeito. Apesar de tentar estabelecer um diálogo e buscar uma melhora na relação, Mylena disse que sempre era colocada como a errada da situação e que seus sentimentos não eram levados em conta.


Já para Vitória Alcaide, de 25 anos, a tentativa do diálogo amenizava um pouco a situação, mas somente se Vitória a procurasse e ouvia que seus sentimentos eram fingidos e falsos. "Eu já não fazia nada na vida por medo de magoar a pessoa, porque me importava com a amizade dela. Então deixava de ser eu mesma para me tornar uma pessoa retraída. Desenvolvi uma depressão."


Quando Gabriella Freihat, de 19 anos, reclamava de algo sobre a amizade era considerada infantil e chata, mesmo quando sua reclamação era sobre a falta de respeito que a pessoa tinha com ela. "A princípio ela me tratava normal, ela se dizia minha melhor amiga e eu confiava muito nela e nas opiniões dela. Porém, conforme o tempo foi passando eu percebi que muitas vezes era tratada como inferior, minhas opiniões não importavam, nem meus sentimentos."


Ao ser questionada sobre como essa pessoa a fazia se sentir, Talita Sena, de 21 anos, respondeu que se sentia presa a essa pessoa e com a sensação de que nunca iria encontrar alguém melhor para se relacionar. Para ela, os sinais de que vivenciava uma amizade tóxica só foi perceptível após se envolver com amizades realmente saudáveis. "Ela ficava chateada quando eu conseguia e ela não ou deixava de me seguir no Instagram se eu estivesse viajando e ela não, ficava com raiva por eu tirar foto com outra pessoa que não fosse ela".


A relação da Natalia Tristão, 21 anos, foi um pouco diferente das anteriores, mas não menos tóxica. A pessoa fazia parecer que a relação era um segredo, como se a amizade dos dois fosse algo proibido. "Ninguém podia saber que nós éramos amigos, nem mesmo os nossos em comum. Para todo mundo, éramos só colegas de trabalho, nem nas redes sociais a gente se seguia para não haver interação e alguém notar. Ele era um grande amigo quando estava só eu e ele, se mais alguém aparecesse no cenário, ele me tratava mal, meio que menosprezando".


Apesar de terem sido vivenciadas diferentes, todas as 5 mulheres relataram algo em comum nas relações: após conseguirem se afastar das pessoas tóxicas, elas se sentiram usadas, tristes, perdidas e até culpadas. "Mesmo sabendo que não tinha culpa, eu fiquei achando que tinha feito algo de errado", disse Talita.


Algumas das vezes, foi preciso que outras pessoas as alertassem sobre o perigo daquela amizade. Vitoria disse que sua família percebia o quanto ficava triste e o quanto aquela pessoa a fazia mal, "mas quando me falavam eu não aceitava, ficava brava".


O pós afastamento também é uma situação delicada, pois a pessoa já está acostumada em ter a outra em sua vida e ainda possui o sentimento de falta. "Eu queria não sentir saudades, queria não estar triste, mas toda mudança tem um resultado bom ou ruim, e no começo foi muito ruim. Pois eu já estava acostumada com aquela amizade, mesmo com as grosserias, com as brigas constantes." relatou Mylena.


Para a psiquiatra, uma boa forma de conseguir perceber estar vivenciando uma relação tóxica é se perguntar "O que a amizade dessa pessoa significa para mim?", refletir sobre as atitudes dessa pessoa e tentar um diálogo para que haja uma melhora. "O diálogo não funcionou? É hora de trabalhar impor limites, esse limite pode ser claro em situações específicas ou mesmo se afastar, nestes casos pode ser necessário um apoio. Essa é a hora de pedir ajuda, para familiares, novos amigos ou se o apego [a pessoa] estiver relacionado a sintomas ansiosos/ depressivos é importante um suporte psicológico."


A presença de outros amigos é muito importante no processo de afastamento e às vezes é preciso que alguém esteja presente para lembrar o quanto aquela pessoa agiu errado e que não deve voltar atrás. Como é para Natália, que conta com o apoio de seus amigos e que também a impedem de falar com a pessoa em questão além do que é necessário.


Mesmo não estando livres de passar por situações parecidas, também podemos ter sido ou vir a ser a pessoa tóxica de nossas relações. É necessário que façamos uma reflexão sobre como que nos portamos com nossas amizades, se possuímos empatia por elas, se permitimos que essa pessoa possa ter um espaço para conviver com outros amigos e até mesmo só. "Lembrando que refletir sobre nossos atos não é criar um rótulo, eu posso estar nesse momento agindo como um amigo tóxico, mas não preciso manter esse comportamento, o autoconhecimento é a maneira mais eficaz de obter crescimento pessoal.", disse a psiquiatra.


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