Filme aborda o feminismo através de uma linguagem simples trazendo reflexão para o mundo real
O filme gira em torno de uma adolescente em seu período de ensino médio, onde além de ela precisar lidar com suas próprias crises, incertezas e questionamentos, se percebe em um ambiente longe do ideal para uma mulher viver, e a partir daí resolve agir a respeito.
Vivian é uma adolescente de 16 anos que mora com sua mãe na pequena cidade fictícia de Rockport, e até então frequenta a escola de maneira tímida, sem se envolver em polêmicas ou participar de grupos, sempre passando despercebida pelos corredores agitados da Rockport High School. Sua mãe, já aparenta ser fora do padrão de uma mãe convencional conservadora aos ter os braços tatuados, Lisa, mãe solo, leva uma vida de relação amigável com sua filha
Vivian tem a amizade e companhia de sua amiga fiel Claudia, uma menina com descendência oriental. Aqui se percebe a primeira temática, se tratando de diferentes etnias que acarretam em culturas diferentes e percepções diferentes. As amigas então se encontram na escola para o primeiro dia de aula após as férias, e de maneira inconsciente talvez, Claudia reproduz alguns comportamentos preconceituosos, como prejulgar as meninas que passam por elas na escola, fazendo referência a títulos que elas ganharam através de uma suposta lista machista que circula a escola todos os anos, o “ranking de garotas”.
Outra temática abordada logo no início do filme é a questão da acessibilidade, em que uma cadeirante enfrenta dificuldades para conseguir acessar a escola já que um grupo de meninas estão conversando onde tem o único acesso para ela passar de cadeira de rodas. Aqui se percebe como portadores de deficiência são realmente invisíveis aos olhos da sociedade.
Antes mesmo de vir a conscientização sobre o que é o feminismo, primeiro vem a percepção de se reconhecer em um ambiente opressor, em uma situação em que a mulher está vulnerável a diversas situações de abuso e crime e todo o sistema em volta se omite.
Passeando ainda pela questão étnica, chega na escola uma nova aluna negra com descendência latina, Lucy, que passa a ser o alvo do tradicional capitão do time da escola. Aliás, o atleta Mitchell carrega consigo todo o esteriótipo do machismo nas escolas do ensino médio, atleta, branco, hétero, cisgênero, que só se interessa e namora pelas meninas padrões, vira o rostinho que divulga a escola nos campeonatos, que banaliza todo o tipo de causas sociais principalmente a feminina, e ainda ganha suporte da diretora e professores ao apresentar conduta de assédio e machismo por ser mais fácil omitir os fatos do que burocratizar a conduta errada do atleta.
Mitchell a enxerga mais ainda como “rival” ao perceber que a menina não se sente intimidada por ele, inclusive o enfrenta e sai em busca de suporte da diretora. Uma mulher, com cargo de liderança, mas extremamente machista em seus posicionamentos e obviamente negligencia a causa.
Ao presenciar um dos assédios cometidos pelo atleta em cima de Lucy, Vivian decide por não intervir e muda de caminho para não passar por eles, a tornando omissa. Nesse momento é nítido o consentimento estrutural do machismo por parte das mulheres, devido à diversas situações, porém a falta de informação constrói a base de todas elas. Em outro momento, Lucy e Vivian se encontram e a adolescente sugere a Lucy que não dê importância para Mitchell, assim ele mudará de foco e deixará de persegui-la, mas Vivian é surpreendida com uma jovem cheia de vontade e força para lutar por seus direitos e contra os abusos sofridos, não somente por ela, mas por todas as mulheres da escola.
A partir desse momento é um divisor de águas no longa. Vivian resolve conversar com sua mãe a respeito da adolescência da mãe, que disse que era ativista de todas as causas sociais e se expressava através de uma banda de rock feminina. Pronto, foi o momento de virar a chave na cabeça de Vivian que passa a reconhecer efetivamente o machismo estrutural no ambiente em que a cerca, e decide fazer algo a respeito. Nesse momento surge o Moxie, uma zine que são publicações caseiras com a intenção de propagar suas ideias feministas para outras pessoas do colégio, porém com um detalhe, de forma anônima.
Fazendo um paralelo com a inserção de meninas no movimento feminista, seu início no levantamento das pautas, baseada na vontade e desejo por querer modificar a sociedade, embasadas na ciência da opressão e violência que sofrem, muitos momentos acabam agindo com extrema rigorosidade, o que prejudica ao invés de somar. E isso é percebido também no filme, no momento em que Vivian se afasta da amiga de infância, se desentende com as meninas do Moxie e até mesmo com sua mãe e com seu namorado.
A romantização do filme é feita de maneira bem singela, abordando as dificuldades de dois adolescentes mas sem descontextualizar o enfoque da trama, que é o feminismo.
Com a Moxie criada, meninas se filiam ao movimento e começam a reivindicar direitos iguais e penalização pelos assédios sofridos. Um outro debate bacana é que surge no meio dessas pautas a questão de gêneros. Ou seja, o filme inteiro é uma reflexão de conceitos, valores e conhecimentos.
Enquanto o movimento agita os corredores da escola, muita trama acontece e é focado bastante na situação da escola se omitir por não querer ficar em ‘evidência” devido essas causas sociais que são polarizadas na sociedade e deixam um marco por onde passam.
Porém o Maxie se torna tão gigantesco com nível de aceitação tão elevado, sincronizam as meninas e até mesmo os meninos conscientes de seu lugar de privilégio nesta pauta, e conseguem finalmente derrubar não somente o atleta assediador, como também a escola por sua errada conduta.
Depois de tantos spoilers, ainda tem a cereja do bolo, mas você só ficará sabendo se assistir ao filme.
Fazendo uma análise geral, a contextualização da causa é feita de forma simples, a mensagem é transmitida diretamente auxiliando principalmente na reflexão do comportamento do público na vida real. Traz ensinamento, explica de forma dinâmica o machismo estrutural e como é reproduzido, além de claro, incentivar a sororidade.
Uma pontuação a se fazer é que poderia ter trabalhado melhor a inclusão social da cadeirante, e um outro apontamento um pouco mais delicado é da protagonista ser padrão, o que foge a intenção do filme que é justamente levantar questões sociais e seus movimentos. Já o contraponto da protagonista, é exatamente ela reconhecer seu lugar de privilégio e lutar por causas que outras mulheres são muito mais afetadas que ela, trabalhando a sororidade. Fica a reflexão!
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