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  • Foto do escritorMayara Beani

Abismo social entre o urbano e o rural - o cenário da educação no interior de SP

As dificuldades sociais da educação rural pelo relato de uma professora da rede pública de Ibiúna


Fonte: Google Maps

O fechamento das escolas por mais de 1 ano, desde 18 de março de 2021, veio apenas para escancarar o abismo já existente entre o ensino nas áreas urbanas e rurais. Muito além do acesso a estruturas e tecnologias adequadas nas escolas, este abismo é demarcado pela fronteira social, cultural e quase territorial entre estes municípios rurais e urbanos.


Localizada a pouco mais de 70Km da capital do estado, a Estância Turística de Ibiúna, tema de nossa matéria, tem aproximadamente 79 mil habitantes e uma área de 1.060 km² é considerada um município predominantemente rural, tendo a segunda maior população rural do estado de SP.



Segundo a Professora de Educação Fundamental I no município de Ibiúna, Vania Fiuza, as diferenças podem ser sentidas a uma distância muito menor. Docente em duas escolas do município, uma localizada no centro da cidade e outra no bairro do Rosarial – a diferença da estrutura disponível nas escolas e o perfil dos alunos é surpreendente.




Enquanto na primeira, o acesso à internet é facilitado, pela disponibilidade de rede Wi-fi na escola e pelas redes móveis de celular, na segunda, a educação à distância, é danosamente prejudicada pelo não acesso à internet, o que se reflete à população no entorno, que nos bairros afastados do centro já não tem acesso à internet de qualidade.


“Nunca vai ser igual a SP, a realidade é muito diferente da nossa, as crianças da capital já nascem com o celular nas mãos. Aqui não, eles têm dificuldade até mesmo com isso, porque eles não têm acesso ao aparelho de celular, há no máximo um aparelho por família (...).” Diz Vania.


Com a pandemia, ciente das realidades de sua população, a Secretaria de Educação local adotou o sistema apostilado para as aulas à distância em que os pais ou familiares retiram nas escolas as apostilas periodicamente, e entregam as anteriores já preenchidas, sistema que segundo Vania, têm funcionado muito bem.


Porém, quando comparado às sistemáticas da rede particular, o sistema é inferior. As escolas particulares têm adotado aulas online ao vivo, onde há um contato com hora marcada entre alunos e professores, na escola pública, este contato tem sido pontual e focado em alunos com maior dificuldade.

A maior preocupação dos docentes, no entanto, é com a alfabetização. As turmas que saíram do primeiro ano em 2019 por exemplo, em algumas escolas do município apresentavam muitas dificuldades de escrita, em 2020 tiveram apenas 2 meses de aulas presenciais, e seguem em aulas apostiladas sem o contato com o professor até então. Em 2022 estarão no 4 ano, com defasagens profundas de alfabetização, cujo reflexo se estenderá até o ensino médio.


O que se pretende após a pandemia, fazer é aulas regulares em 1 período, somadas às aulas de reforço escolar no contra turno, mas mesmo assim parte desta defasagem se manterá.


“Não só em relação à pandemia, o ensino rural é mais difícil do que o urbano. Eles não têm tanto contato com as coisas quanto as crianças da cidade, com livro ou com jornal, eles não têm contato com nada. Muitas vezes os pais não colocam na educação infantil, e vão direto para o primeiro ano. (...) A gente recebe crianças de 7 anos que não sabem o que é em cima e embaixo, cor, não sabem o que é um círculo, não reconhecem um número sequer, que são noções por exemplo que a gente ensina em casa, coisas do dia a dia. Eles não têm essa vivência.” Comenta Vania.


Esta condição terá um reflexo significativo nos índices de evasão escolar no ensino médio, na conclusão do ensino superior e na disponibilidade de mão de obra qualificada para a indústria e agronomia local, o que veremos na segunda parte desta matéria.

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