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  • Victória Farias

A triste realidade da mobilidade urbana na pandemia

Não há espaço para o distanciamento social nos transportes públicos com superlotação diária

Fotografia: Lucas Neves

Com pouco mais de um ano do início da pandemia mundial ocasionada pela Covid-19, doença gerada pelo novo coronavírus, tudo parece estar como de costume, apesar da máscara e o álcool em gel que se tornaram quase um uniforme para sair de casa. Em alguns momentos a sensação é de que talvez nem haja um vírus circulando por aí. A vida parece acontecer normalmente nas ruas, restaurantes, empresas, shoppings e principalmente no transporte público.


Em entrevista para o site da Universidade de São Paulo (USP) no início deste cenário, o infectologista e professor Benedito Fonseca alerta para a importância do isolamento social para evitar a disseminação do vírus. “Nesse momento onde nós não temos uma vacina, nós não temos um medicamento contra esse vírus, o que a gente pode fazer é minimizar a transmissão dele.”, alerta o médico.


Existem diversas comprovações de que o isolamento social é extremamente eficaz no combate à disseminação da Covid-19. Em um estudo feio por Eduardo Lima, professor do Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), foi demonstrado com clareza a importância do isolamento social. Para isso, foi analisado os dados oficiais de óbitos por milhão de habitantes, havendo uma grande diminuição após a decretação das medidas restritivas.


Mas a quarentena geral não durou muito tempo, e nem todos tiveram o privilégio de ficar em casa preservando sua saúde e a de seus familiares. Para algumas pessoas, na prática, não foi tão simples. Esse é o caso de Cristiane Araújo, gerente administrativa de uma escola particular localizada na zona oeste do Rio de Janeiro, que mora com os pais idosos. Com a volta ao trabalho, Cristiane precisar pegar três conduções para chegar até seu trabalho e tem receio de contaminar seus pais ao chegar em casa. Mas ficar sem trabalhar não é uma opção. “Estou vindo trabalhar apenas alguns dias na semana pois tenho pais idosos em casa, meu maior medo é ser assintomática e transmitir para eles”, conta Cristiane.

Trem da Supervia no Rio de Janeiro fora do horário de pico. / Foto: Victória Farias

Ônibus, trem ou metrô. Diariamente esses transportes públicos estão lotados, não há espaço para o distanciamento social, principalmente nos horários de pico de entrada e saída da jornada de trabalho. Antes da pandemia, o cenário de mobilidade urbana já era caótico com linhas de ônibus desaparecendo, veículos sem manutenção e o ar-condicionado quebrado, por exemplo.


Para Francisco Jesus, motorista do BRT Rio, foi preocupante trabalhar no início da pandemia pelo fato de não se ter muitas informações sobre o vírus e como poderíamos nos proteger. Ele conta que trabalha nesta função por amor, por ser útil a população que deseja se locomover na cidade, mas que durante o início da pandemia foi assustador estar naquela posição.


Uma pesquisa do aplicativo de transporte Moovit durante este período diz que 36% dos passageiros passaram a usar menos transporte público desde o início da quarentena. Quem tem outra opção foge da aglomeração encontrada no interior dos ônibus e trens. Mas pelo olhar de quem está todos os dias responsável pela direção de um ônibus, a resposta é outra. “Eu vi um super acúmulo de transeuntes devido a diminuição de alguns ônibus pelo mau estado de conservação do asfalto e manutenção da suspensão dos veículos que circulam com o peso acima do projetado. São mais veículos na oficina a espera de consertos”, explica Francisco. Menos passageiros com menos ônibus, as filas e aglomerações no interior dos veículos não diminuem. A superlotação é uma realidade.


No início do cenário pandêmico o BRT Rio espalhou diversos cartazes informativos e disponibilizou álcool em gel na maioria das estações para uso livre de seus passageiros. Depois de alguns meses, o protocolo não foi mais seguido. “Ao passar dos tempos, meio que aparenta ter encerrado a continuação sobre orientar e investir em máscaras e álcool para a higienização das mãos.”, conta o motorista da empresa.

Corredor um ônibus BRT / Foto: Lucas Neves

Diariamente milhares de pessoas se cruzam, esbarram, conversam ou tem algum tipo de contato no interior dos transportes públicos do país. Foi preciso voltar ao trabalho e lidar com essa nova realidade. O ‘novo normal’ de máscara e álcool em gel na rua. Para uma população, em sua maioria constituída pela classe baixa, esse é apenas mais um obstáculo na rotina de trabalho em que se gastam em média de 4 a 6 horas do dia dentro de um ônibus, trem ou metrô. É preciso encarar mais essa dificuldade para que o salário caia na conta no final do mês.

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