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Foto do escritorMillena Galdino

100 anos de Mercedes Baptista: precursora no Municipal e criadora da Dança Afro

O legado que a bailarina deixou para a história do Brasil é vasto

Foto: Arquivo/Agência O Globo

No balé clássico, o posto mais alto da hierarquia é o de primeira-bailarina ou primeiro-bailarino. O Teatro Municipal do Rio de Janeiro apresenta o balé desde 1927. Entretanto, a primeira bailarina negra a integrar o corpo foi, tardiamente, 21 anos depois, em 1948, e até hoje o lugar não teve qualquer solista ou primeira-bailarina negra em sua história.

Dentro desse contexto, encontra-se Mercedes Baptista, nascida no norte fluminense do estado do Rio de Janeiro, em 1921. Foi morar pelas regiões centrais do estado com sua mãe, que era costureira, para construir outras oportunidades. Começou a trabalhar em bilheteria de cinema, onde se apaixonou pelas artes. Anos mais tarde, em 1948, Baptista presta concurso e é admitida para integrar o corpo de Baile do Municipal. Contudo, no cenário citado anteriormente, foi pouco escalada para as apresentações e quando a colocavam, era representada como a figura “exótica”.

Vivendo nessa conjuntura de opressão, Mercedes conhece Abdias do Nascimento e inicia um outro lado fundamental da sua carreira no Teatro Experimental do Negro (TEN), que integrava múltiplos formatos artísticos em seu meio. Durante esse contato, a artista se aprofundou nos debates de questões raciais, pois o TEN investia na instrução e formação política dos que passavam por ali.

Em 1951, depois de prestar uma admissão para o corpo de dançarinos da coreógrafa e antropóloga norte-americana Katherine Dunham, referência na dança negra nos Estados Unidos, que vem ao Brasil para apresentações, recebe o convite para estudar dança moderna em sua companhia em Nova York. Licenciando-se do Teatro Municipal, Mercedes passa um ano realizando seus estudos.

Ao voltar para o Brasil, inspirada em sua experiência fora, decide criar o Ballet Folclórico Mercedes Baptista, espaço em que, depois de suas pesquisas das ruas e culturas cariocas, inaugura-se o que conhecemos como Dança Afro, baseada em ritualísticas de religiões afro-brasileiras. A partir do seu balé, que teve papel constituinte na disseminação e valorização da cultura afro diaspórica no país e no mundo, ela deixa o legado de uma personalidade ativista negra e antirracista.

Tendo papel fundamental, também, na história do carnaval em que montou e coreografou a comissão de frente do desfile da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, em que o enredo trouxe para a cultura a história de Chica da Silva, garantindo a vitória à escola.

Desfile do Salgueiro, 1963, Rio de Janeiro. Foto: Arquivo/O Globo

Dois anos depois de sua morte, foi inaugurada, em 2016, no Largo do São Francisco da Prainha, um local de reverência à memória africana no país, uma estátua em sua homenagem, que deixou contribuições fundamentais para história e cultura desse país.

Estátua, Rio de Janeiro. Foto: Correio Nagô

Para aprofundar a importância da personalidade em nosso contexto, o Femme News indica o documentário dirigido por Lilian Solá e Marianna Monteiro, disponibilizado no YouTube, em que narra a biografia detalhada de Mercedes.

Assim, como, o episódio do podcast Negra Voz, que auxiliou na construção desta matéria.



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