1 de agosto - Dia da Literatura de Cordel
- Femme News
- 1 de ago. de 2020
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Narrativa que fortalece o folclore brasileiro é símbolo de credibilidade e cultura
Por Clara Maria Lino

Segundo o portal “Significados”, a literatura de Cordel é uma manifestação tradicional do interior do nordeste. Se destaca como um gênero literário baseado em versos com métrica, rima e características focadas na oralidade e linguagem informal. Esta cultura é reconhecida como patrimônio cultural imaterial e conta com a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), em Santa Teresa, região do Centro do Rio de Janeiro.
Os estados brasileiros que tem tradição nesta cultura são: Rio Grande do Norte, Ceará, Pará, Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Na história do Brasil, a literatura de Cordel ou literatura popular em verso teve força nos séculos XVIII e XIX. O nome “cordel” tem referência portuguesa onde os folhetos eram expostos em cordas e foram trazidos ao Brasil pelos colonizadores.
Além dos séculos antecessores, também o século XX teve destaque desta literatura popular na década de 1930 até 1960. Ariano Suassuna e Guimarães Rosa foram dois dos muitos escritores influenciados por essa narrativa que fortalece até hoje o folclore brasileiro e o imaginário da região nordestina.
O presidente da ABLC, Gonçalo Ferreira da Silva destaca a credibilidade que a literatura de cordel possuía durante a década de 1950 através da morte de Getúlio Vargas como exemplo.
“Além do entretenimento, a literatura de Cordel se transformou em jornal. A ponto de transmitir notícias importantes do Brasil e do mundo. A morte de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954 foi um momento muito importante da história em que a literatura de Cordel possuía grande credibilidade. Tanto que quando os vagões chegavam até as estações distribuindo os jornais, os camponeses questionavam as aglomerações em torno deles. Para os camponeses o jornal não transmitia a verdade. Eles só acreditavam em cordéis. O que simboliza a altíssima credibilidade que depositavam neste gênero”, afirma o presidente da ABLC.
Paola Tôrres Costa é Pós-Doutora pela UNICAMP no Departamento de Saúde Coletiva em Medicina Integrada e Biologia Cultural no Instituto Matriztica de Santiago, no Chile. Além disso, também carrega em seu currículo o cargo de professora titular do Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará (UFC), é médica, escritora, palestrante, compositora, cordelista membro da cadeira 38 da ABLC e Presidenta do Instituto Roda Viva. Ela fala sobre o que significa a literatura de cordel para o Brasil.
“Para mim a literatura de Cordel é a forma mais viva de expressão da cultura popular que nós temos e está unida a todas as nossas raízes. A literatura de Cordel é protesto, é romance, é alegoria, é o realismo fantástico, é a notícia, é a informação, é tudo junto e com muita poesia. Ela dá voz a todos os nordestinos e também por onde ela anda”, disse a Dra. Paola Tôrres.
Perguntada sobre a presença na mulher no espaço da literatura, Dra. Paola diz que a presença da mulher está mudando em todos os cenários, mas de forma lenta.
“Nós temos criado coletivos de mulheres para fortalecer nossas publicações. Nós estamos tentando estar presentes nas feiras, nas bienais, fazendo palestras, ampliando nosso público e chamando a atenção para as mulheres cordelistas. Há muitas mulheres escrevendo cordéis para livros didáticos das escolas. As grandes contadoras de histórias são mulheres e os cordéis são grandes histórias”, relata a cadeira 38 da ABLC.
Ela finaliza afirmando a importância de se manter viva a tradição da literatura de Cordel.
“A preservação do Cordel é fundamental para que consigamos preservar o que temos de mais moderno e arcaico. Quando vejo crianças e jovens dessa geração também aprendendo a fazer Cordel vejo que é inevitável. É uma cultura que pulsa na nossa genética. É ancestral. A visão poética do mundo que o Cordel traz para todos é muito pungente. Então as crianças também se identificam plenamente com isso”, afirma a escritora.
-Cordel
"Eu agradeço aos leitores
Que vão ler esses meus versos
Pois muitos são os processos
Dos quais somos condutores
Nós somos os detentores
De um tipo de maestria
Que brota no dia a dia
Veloz como o pensamento
É perfeito o casamento
Da rima com a poesia."
(Dra. Paola Tôrres Costa - @drapaolatorres)
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