Em ato histórico, fabricante fará doações milionárias para indenizar ex-funcionários vítimas da ditadura no Brasil
Nesta quarta-feira (23), a Volkswagen do Brasil, fabricante automotiva originária da Alemanha, assinou um acordo chamado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal em São Paulo para reparar as violações dos direitos humanos cometidas durante o período da ditadura (1964 – 1985).
No Termo, a fabricante pagará no total de R$ 36 milhões para promover iniciativas relacionadas à defesa dos direitos humanos. Cerca de R$ 16,8 milhões irá para associação de trabalhadores da empresa e, principalmente, ex-trabalhadores que sofreram manifestações que vão contra os direitos humanos, como a prisão, perseguição ou tortura.
Fora isso, R$ 10,5 milhões serão para promover projetos em prol da memória da época e de investigações dos crimes cometidos. E, também, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) receberá R$ 4,5 milhões para identificar vítimas já enterradas, com a ajuda do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), e para a realização de novas pesquisas sobre outras empresas e suas condutas na ditadura.
O resto do dinheiro será encaminhado para os Fundos Federal e Estadual de Defesa e Reparação de Direitos Difusos e ajudará na construção do Memorial da Luta pela Justiça, localizado em São Paulo.
Em troca disso, o Conselho Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo no Ministério Público Federal arquivará todos os inquéritos que estavam abertos investigando a Volkswagen.
“Lamentamos as violações que ocorreram no passado. Estamos cientes de que é responsabilidade conjunta de todos os atores econômicos e da sociedade respeitar os direitos humanos e promover sua observância", disse Hiltrud Werner, membro do Conselho de Administração do grupo Volkswagen.
A ação da marca nessa época da história veio à tona através de um relatório de 2017 que conta o relacionamento da empresa com o governo brasileiro durante a ditadura, que foi feito pelo historiador alemão Christopher Kopper. Em alguns trechos, ele relata que “a Volkswagen do Brasil foi irrestritamente leal ao governo militar e compartilhou os seus objetivos econômicos e da política interna” e que “o golpe militar de 1964 e a instituição de uma ditadura militar cada vez mais repressiva foi avaliado positivamente pela empresa”.
Sendo assim, após a divulgação desse relatório, no mesmo ano houve um protesto na frente da fábrica da Anchieta, realizado por ex-funcionários que reivindicavam a indenização da empresa.
O mesmo homem da foto, cujo nome é Lúcio Bellentani, ferramenteiro e funcionário entre 1964 e 1972 da empresa, deu uma entrevista ao EL PAÍS em 2017 e afirmou que foi vítima dessa parte da história junto com outros empregados. Relatou que foi preso enquanto trabalhava e que tudo ocorreu com o conhecimento e aval da fabricante.
“Ali mesmo começaram as torturas. Comecei a ser espancado dentro da empresa, dentro do departamento pessoal da Volkswagen. Por policiais do DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] e na frente do chefe da segurança e dos outros seguranças da fábrica”, disse Bellentani.
Comments