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Foto do escritorAna Modesto

Trio de cientistas ganha Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da Hepatite C

Prêmio será homenagem a um grande avanço na conclusão de um tratamento definitivo para a Hepatite C

Foto:Reprodução/Revista Galileu

Neste ano de 2020, o Prêmio Nobel de Medicina irá homenagear três cientistas muito importantes no combate a hepatite C (transmitida pelo sangue). Está doença é um grande problema de saúde mundial, pois, ele tem o poder de trazer a pessoa infectada a obtenção de uma cirrose ou um câncer de fígado. Os cientistas Harvey J. Alter dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) e Charles Rice da Universidade Rockefeller (norte americanos), Michael Houghton da Universidade de Alberta (britânico) foram os responsáveis pela descobertas seminais que levaram à identificação do vírus causador da da hepatite C presente no sangue, há 30 anos atrás.


Atualmente, já é possível a identificação e cura deste tipo de hepatite através de exames de sangue e medicamentos antivirais. O comitê do prêmio relata mais sobre:


“Pela primeira vez na história, a doença agora pode receber uma cura. Isso aumenta as esperanças de erradicar o vírus da Hepatite C do mundo”, disse o comitê do prêmio.


Mesmo perante evolução, segundo Gunilla Karlsson-Hedestam, membro do Comitê do Nobel, ainda é cedo falar, pois ainda 70 milhões de pessoas estão infectadas pelo mundo por um vírus que mata, aproximadamente, 400.000 pessoas por ano.


Apesar de ser uma inflamação ocasionada por infecções virais, o abuso de álcool, toxinas ambientais e doenças autoimunes também são cruciais para a sua infecção.


A Assembleia do Nobel de Medicina é composta por 50 professores da Karolinska Institutet na Suécia e são eles os encarregados da avaliação das indicações recebidas e da escolha da premiação do Nobel de Fisiologia ou Medicina. Esta é uma premiação com mais de cem anos de existência que tem seu início em 1901.



História


Em 1940, já estava claro a existência de dois tipos de hepatite. O primeiro, hepatite A, infecção transmitido pela água ou alimentos poluídos, no geral a mais fraca a longo prazo no paciente. O segundo, hepatite B, transmitido pelo sangue e fluidos corporais e tem um impacto muito maior no corpo, podendo tornar-se crônico, levando a cirrose e câncer de fígado.


A Hepatite A e B já havia sido descobertas anteriormente, no entanto, os casos em que a transmissão ocorria pelo sangue ainda encontra-se sem resposta, pois, mesmo em casos de objetos cortantes sem a contaminação da hepatite B, alguns pacientes ainda encontravam-se doentes. Observando isso, Alter e sua equipe observou que isso ocorreu também aos chimpanzés, o único hospedeiro próximos geneticamente aos humanos. E como ela não possui características nem de hepatite A ou B, acabou ficando conhecida como hepatite “não A, não B”.


Na década de 60, as operações com transfusão de sangue, segundo o comitê do Prêmio Nobel, era quase como estar em uma “roleta russa”, onde não era possível assegurar que não fosse possível contrair uma hepatite crônica ou até uma outra doença desconhecida na época, já que a sua identificação pode levar até anos.


Na década de 70, após avaliar uma contaminação que não se enquadrava em nenhuma das 2 hepatites descobertas, os cientistas responsáveis observaram a possibilidade de uma terceira doença. Logo, em 1989, Michael Houghton e sua equipe científica receberam a credibilidade pela identificação da sequência genética do vírus, através de uma pesquisa própria que utilizava genomas de chimpanzés.


Charles Rice, durante anos dissecou a forma de reprodução do vírus, e em 2010, seu estudo levou ao surgimento a um novo tratamento para a hepatite C.


Estas descobertas foram tão importantes somente em casos de transfusão de sangue, como em casos de hepatites crônicas ou da diminuição no número de transplantes de fígado. A partir disso, foi permitida a realização de exames de sangue e novos medicamentos para o seu tratamento.


Resumidamente, os estudos metódicos de Harvey J. Alter percebeu que um vírus ainda desconhecido podia ter relação como uma causa comum de hepatite crônica. Michael Houghton revolucionou com uma estratégia inédita para isolar o genoma do vírus até então desconhecido e denominado vírus da hepatite C. Charles M. Rice forneceu a evidência final, o que faltava para a comprovação que o vírus da hepatite C pode causar hepatite sozinho. A partir destas revelações será possível a criação de medicamentos antivirais próprios contra a hepatite C e mais um avanço na busca pela sua erradicação. Segundo o comitê do Prêmio Nobel, as suas descobertas conseguirão salvar "milhões de vidas”.


Em 1976, Baruch S. Blumberg também ganhou o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta vírus da hepatite B, em 1969.


A única nascida no Brasil a receber um Nobel foi o britânico Peter Medawar, por sua descoberta das bases da tolerância imunológica adquirida, que consiste na capacidade de não permitir que o sistema imunológico reaja a certos fatores.



Tratamento


Fármacos antivirais atuais, curam mais de 95% das pessoas com hepatite C com a dosagem de até dois comprimidos por dia. Desta forma, reduzindo os riscos de óbito por cirrose e câncer de fígado. Mario Gonzalez, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e pesquisador de hepatites virais fala mais sobre:


“É muito notável a descoberta desse vírus. Durante décadas as pessoas morriam de uma cirrose causada por uma misteriosa hepatite ‘não A não B’. O prêmio é mais do que justo e, apesar da demora de mais de 30 anos, vem em boa hora, já que agora temos a chance de erradicar a doença”.


O tratamento dura 3 meses e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com González, a maior dificuldade atual é localizar os doentes, já que é uma doença silenciosa e só identificável em casos graves. Para ele, o ideal seria que todos que tiveram grandes cirurgias há mais de 20 anos e passaram pela que transfusão de sangue antes de 1995 e estiveram presos ou tenham histórico de drogas injetáveis devem realizar o teste para hepatite C.



Brasil


Cerca de 600 mil a 700 mil pessoas adquiram hepatite C e 15 mil a 20 mil pessoas morram por ano no Brasil. Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Unesp e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia diz que mesmo estando disponível a população, depende muito do identificar o paciente para realização do tratamento. E ainda relata mais:


“A gente pode dizer que esse é um dos maiores casos de sucesso da medicina. Em pouco mais de 30 anos, fomos da descoberta da doença e passamos pela identificação do agente causador até chegar em um tratamento curativo. Com um esforço coletivo, tratando todos os infectados, é possível eliminar o vírus da face da Terra até 2030, assim como ocorreu com a varíola, já que não há reservatório animal. É só o caso de colocar a ciência acima de questões políticas e ideológicas”.



Prêmio


Os vencedores dividirão o prêmio de 10 milhões de coroas suecas, aproximadamente, 6,4 milhões de reais. Este dinheiro é de um de cerca de 4,9 bilhões de coroas suecas deixados por Alfred Nobel, patrono do prêmio e inventor da dinamite, que escolheu em seu testamento diversos pesquisadores da instituição sueca para eleger aqueles que tivessem feito notáveis descobertas ao futuro da humanidade para receber a láurea.


Além do valor em dinheiro, os escolhidos ao prémio receberão uma medalha e um diploma em casa (Por conta da pandemia do novo coronavírus).


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