Cerca de 8% dos possíveis doadores foram descartados depois de testarem positivo para covid-19
De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes (ABTO), o número de cirurgias para transplante de órgãos, entre abril e junho deste ano, caiu 61% em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Como consequência, gerou um aumento de 44,5% às mortes de pacientes cadastrados na fila de espera entre os dois períodos em todo o país. A associação levou em conta transplantes de coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim, córnea e medula.
Na comparação entre o primeiro semestre de 2020 e o mesmo período do ano passado, houve queda de 32% no total de transplantes e aumento de mortes de 34%. Segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplantes), se a tendência se mantiver, 2020 pode fechar com queda de 20,5% em relação a 2019. Com esse resultado, o Brasil vai regredir à marca atingida há 9 anos.
O que gerou essa diminuição nas cirurgias de transplante foi o descarte de órgãos infectados com o novo coronavírus, aumento da negação familiar para que os parentes fossem sepultados rapidamente, contraindicação para a realização do procedimento nos casos em que o receptor pudesse esperar com tratamentos paliativos e até falta de logística aérea para que órgãos viajassem para outras cidades.
E com a utilização massiva dos leitos de UTI para os estados graves de Covid-19, diminuíram também as vagas para acolher os recém-transplantados. As vítimas de trauma não tiveram chance de evoluir para morte cerebral, tornando-se doadores potenciais. "Isso aconteceu de forma heterogênea, mas foi no Brasil inteiro. Foi uma queda inédita. Mesmo que a gente considere o que foi feito no primeiro trimestre, é uma perda grande", diz José Huygens Garcia, presidente da ABTO.
Para o presidente da ABTO, o aumento de leitos de UTI disponíveis para pacientes que não estejam infectados com o coronavírus pode ajudar na retomada. “Teremos mais UTI, mais respiradores, e eles podem atender a demanda que já existia antes da pandemia. Estamos apostando muito que, a partir de setembro, com a retomada das atividades, vamos melhorar, mas não sei se vamos conseguir chegar ao nível do ano passado”, disse Garcia.
O Ministério da Saúde emitiu em março uma nota técnica indicando os critérios para a realização de triagem técnica de covid-19 nos candidatos à doação de órgãos. Além das testagens normais, os hospitais devem realizar exame RT-PCR para detecção do novo coronavírus. A coleta dos órgãos só é autorizada com resultado negativo.
Francisco Monteiro, coordenador da central de transplantes de São Paulo, afirmou que cerca de 8% dos possíveis doadores foram descartados depois de testarem positivo para a doença.
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